O Instituto para as Obras da Religião (IOR), como é conhecido oficialmente o Banco do Vaticano, quer ser um modelo de gestão moderna e não ocasião para escândalos.
O Cardeal Pell, nomeado pelo Papa para chefiar a reforma do Banco do Vaticano, anunciou esta quarta-feira o nome do novo presidente da IOR, Jean-Baptiste de Franssu, bem como a criação do cargo de auditor-geral naquela instituição, para garantir a transparência das suas operações financeiras.
Este auditor-geral será inteiramente independente da direcção do banco e da comissão supervisora, incluindo o Cardeal Pell.
Franssu, o novo dirigente do banco, tem 51 anos, é casado e pai de quatro filhos e tem anos de experiência no mundo das finanças e da economia, tendo sido director executivo da Invesco. Durante a conferência de imprensa o presidente cessante Von Freyberg teceu rasgados elogios a Franssu, dizendo que o conhece bem e que é a pessoa ideal para prosseguir com a reforma do banco. O Cardeal Pell explicou que esta mudança faz parte de uma transição natural e pacífica, que começou com Freyberg e cujos resultados estão à vista no segundo relatório anual, publicado na terça-feira.
Freyberg aproveitou a sua despedida para desmistificar algumas ideias feitas sobre o banco. "Quando conhecemos o banco, percebemos que há muitas coisas que não são verdade. Não há contas não identificadas. Não há contas enormes em nome de famílias italianas, nem de políticos, nem de organizações suspeitas". O alemão disse também que tinha ficado admirado com a facilidade com que se trabalha na Santa Sé e elogiou ainda os jornalistas. "Quando vim para cá avisaram-me que a comunicação social era terrível, mas isso não é verdade", disse.
Por sua vez, Franssu realçou o facto de encarar este novo desafio como um serviço à Igreja: "Vejo este trabalho como uma missão à igreja, semelhante à de muitos católicos no mundo que também estão a ajudar a Igreja. Farei os possíveis para corresponder às expectativas que recaem sobre mim e para seguir o excelente trabalho feito por Ernst von Freyberg."
Ernst von Freyberg foi questionado sobre a razão pela qual abandonava o seu cargo ao fim de menos de dois anos. O alemão respondeu que era natural que finda a primeira fase da reforma o IOR tivesse alguém a dedicar-se a tempo inteiro, coisa que ele não podia fazer, e ainda que tivesse experiência em gestão de activos, o que não é a sua especialidade.
Lucros para servir a Igreja e a sociedadeO Cardeal Pell anunciou ainda a criação de uma política de investimentos éticos e de um documento que todos os membros da direcção serão obrigados a assinar, indicando a eventual existência de conflitos de interesse e disse que, subordinado ao objectivo primário de ser um modelo de gestão moderna, espera-se ainda que o Banco do Vaticano possa ser fonte de lucro para servir os interesses da Igreja e da sociedade.
A conferência de imprensa na Santa Sé sobre o estado do Banco do Vaticano e as contas da Santa Sé seguiu-se à
publicação do relatório e contas da instituição, na terça-feira. Este relatório mostrou que os esforços de reforma tinham resultado no encerramento de 3000 contas consideradas inactivas ou detidas por pessoas que não estavam credenciadas para tal, bem como o bloqueamento de outras 2000 contas, consideradas suspeitas.
Os gastos com conselheiros independentes neste processo, bem como o abate de investimentos considerados de risco, levaram à diminuição drástica dos lucros do banco, que desceram de 86 milhões em 2012 para menos de três milhões em 2013. Sem estas despesas extraordinárias o lucro ter-se-ia aproximado dos 70 milhões, anunciou o presidente cessante, Ernst von Freyberg. O Cardeal Pell disse claramente que a Igreja continuará a contar com o apoio de conselheiros externos sempre que for preciso e sublinhou que estas empresas tinham sido muito generosas com os valores cobrados à Santa Sé, praticando grandes descontos em relação às suas tarifas habituais.
Durante a conferência de imprensa foram ainda reveladas mais alterações a órgãos da Santa Sé, coordenadas pelo conselho económico presidido pelo Cardeal Pell, incluindo às comunicações sociais. Para este departamento a Igreja foi buscar Christopher Patten, ex-governador britânico de Hong Kong e actualmente com responsabilidades na Universidade de Oxford e foi director da BBC.
[Notícia actualizada às 12h24]