“A bandeira dos pobres é cristã, os comunistas roubaram-na”

29 jun, 2014 • Filipe d’Avillez

Em entrevista a um jornal italiano, Francisco afirma que “a mulher é a coisa mais bela que Deus fez” e que não é possível fazer teologia sem a feminilidade da Igreja.  

“A bandeira dos pobres é cristã, os comunistas roubaram-na”

O Papa Francisco rejeita a ideia de que a sua preocupação com os pobres tenha algum traço de comunismo.

Dias depois de a influente revista “Economist” ter afirmado que o Papa fala como Lenin no que diz respeito às críticas ao comunismo, o Papa recordou que a causa dos pobres era cristã muito antes de ser de qualquer tendência política.

“O que eu digo é que os comunistas roubaram a bandeira. A bandeira dos pobres é cristã. A pobreza está no centro do Evangelho. Os pobres estão no centro do Evangelho”, afirma Francisco, aludindo à passagem de Mateus, 25: “Tive fome, tive sede, estava preso, estava doente, estava nu”.

“Podemos ver também as bem-aventuranças, outra bandeira. Os comunistas dizem que tudo isto é comunismo. Pois, só que chegou vinte séculos mais cedo”, conclui o Papa, em entrevista ao jornal “Il Messaggero”.

Durante a conversa, publicada na edição deste domingo, solenidade de São Pedro e de São Paulo, os padroeiros da Igreja de Roma, a entrevistadora abordou ainda o tema da posição das mulheres na Igreja.

A resposta de Francisco é clara: “A mulher é a coisa mais bela que Deus fez”.

Para Francisco, é impossível fazer teologia sem ter em conta a feminilidade da própria Igreja: “A Igreja é mulher. Igreja é uma palavra feminina. Não se pode fazer teologia sem esta feminilidade. Dito isto, tem razão, não se fala o suficiente. Concordo que se deve trabalhar mais sobre a teologia das mulheres. Já o disse, e está-se a trabalhar neste sentido”.

Noutro ponto da entrevista o Papa comenta as baixas taxas de natalidade na Europa, dizendo que parece que esta se cansou de ser mãe, preferindo ser avó. "Começar uma família é um compromisso, às vezes o salário não chega, não se chega ao fim do mês. Se há medo de perder o emprego, de não se poderem pagar a renda. A política social não ajuda. Itália tem uma taxa de natalidade baixíssima, a Espanha a mesma coisa. A França está um bocado melhor, mas também é baixa. É como se a Europa estivesse cansada de ser mãe e preferisse ser avó."

"Muito tem a ver com a crise económica e não só com uma deriva cultural marcada pelo egoísmo e o hedonismo. O outro dia li uma estatística muito interessante sobre o critério das despesas da população a nível mundial. Depois da alimentação, vestuário e medicamentos, três coisas necessárias, vêm a cosmética e as despesas com os animais domésticos", critica o Papa.

[Notícia actualizada às 13h16]