Missionário recorda o Corpo de Deus entre os mais pobres dos pobres

22 jun, 2014 • Filipe d’Avillez

Para o comboniano Padre José Vieira, não existe falta de devoção eucarística em Portugal, mas o país está a passar por uma mudança sociológica.

Missionário recorda o Corpo de Deus entre os mais pobres dos pobres
A Igreja portuguesa assinala este domingo o Corpo de Deus. Este é o segundo ano em que a festa é transferida de quinta-feira para domingo, por ter deixado de ser feriado nacional.

Em Portugal há procissões um pouco por todo o país, mas esta é uma festa assinalada por todo o mundo. O Padre José Vieira, missionário comboniano com anos de experiência no Sudão do Sul, refere como a devoção eucarística é vivida de forma muito forte naquele país, apesar da violência e da pobreza, e dá o exemplo da paróquia de Lomin onde o programa para esta festa religiosa começaram já de véspera

“Começa no sábado da parte da tarde, com uma reflexão sobre a eucaristia para toda a missão, seguida de adoração eucarística. Depois no domingo de manhã começa a eucaristia, de manhã cedo, em que participam grupos e todas as capelas da missão. Depois da missa vai haver um momento de animação com a participação de todos os grupos paroquiais e tudo termina com um grande piquenique partilhado. É uma Eucaristia que vai para além de uma Eucaristia normal, passa o dia todo através da outra mesa, a mesa do convívio.”

O padre José Vieira recorda de forma especial a devoção dos católicos sudaneses ao Santíssimo Sacramento, centro desta festa católica, e dá o exemplo de um outro evento, em que participou, quando a Igreja rezou pela paz no referendo que deu a independência ao Sudão do Sul.

“Entre as actividades houve uma procissão eucarística que durou quatro horas. Parou à frente do hospital onde se fizeram orações e se cantou pelos doentes, o hospital foi abençoado com o Santíssimo Sacramento. A próxima paragem foi o palácio do governador, onde se repetiu o gesto, rezou-se pelo governador, pelas autoridades, benzeu-se com o Santíssimo Sacramento. Depois parámos à frente da prisão, parámos num mercado e no fim, depois de quatro horas a caminhar debaixo de um sol forte, com o coro sempre a cantar, as pessoas a rezar, chegámos à catedral, onde houve exposição do Santíssimo, houve um momento de oração prolongado e, no fim, o bispo auxiliar Dom Santo, deu-nos a bênção e voltámos para as nossas casas.”

Em Portugal o entusiasmo à volta deste dia, e da devoção eucarística em geral, poderá parecer menor, mas para o padre José Vieira, actualmente o responsável dos combonianos portugueses, trata-se apenas de uma mudança sociológica.

“Lembro-me que o Dr. Mário Soares disse em tempos que Portugal é um país de Católicos porque nascíamos, casávamos e morríamos na Igreja. Esse Cristianismo sociológico que bebemos com o leite materno está um bocado a desaparecer. Mas por outro lado há o Cristianismo da convicção, somos cristãos porque cremos em Deus, cremos que Deus está connosco, que nos ama.”

Para este sacerdote, a devoção eucarística continua a ser um factor dos católicos portugueses: “Uma das coisas que gosto muito, quando vou a Fátima é de passar um bom bocado na capela da adoração por baixo da basílica nova e ver que há lá sempre gente, movimento de gente que chega, que adora, aquele ambiente de silêncio, que é lindo.”

“Na minha terra, em Cinfães, quando há exposição do Santíssimo nas primeiras sextas-feiras do mês, há um bom grupo de gente que não tem trabalho e que podem dispor do tempo que vêm à Igreja antes da Eucaristia, às 18h e vêm adorar.”

O feriado móvel do Corpo de Deus, que calhava sempre numa quinta-feira, foi suspenso pelo actual Governo, por acordo com a Santa Sé, passando a ser assinalado publicamente no domingo seguinte.