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República Centro-Africana

“Se não fossem os padres estaríamos todos mortos”

25 fev, 2014

Cerca de 800 muçulmanos ameaçados por milícias cristãs em Carnot encontraram refúgio numa igreja católica. “Para nós não são muçulmanos nem cristãos, são pessoas em perigo”, dizem os padres.

Cerca de 800 civis muçulmanos estão cercados por milícias cristãs na vila de Carnot, na República Centro-africana, protegidos apenas por 30 capacetes azuis camaroneses e um par de sacerdotes católicos.

Os muçulmanos vêm de Carnot e de várias aldeias das redondezas e são vítimas da purga anti-islâmica que tem sido levada a cabo pelas milícias Anti-Balaka, compostas por cristãos.

As milícias procuram vingar-se das atrocidades anteriormente levadas a cabo por milícias muçulmanas, os Seleka, que derrubaram o Governo em 2013 e perseguiram cristãos.

A República Centro-Africana é maioritariamente cristã mas tem uma minoria muçulmana significativa, cerca de 15 da população, que vive sobretudo no Norte. Os principais visados da última onda de violência são os muçulmanos que vivem nas áreas maioritariamente cristãs.

As centenas de refugiados muçulmanos abrigados na Igreja de Carnot sabem que a sua vida depende da presença dos capacetes azuis e dos padres que os acolheram. “Se não fossem os capacetes azuis e os padres, estaríamos todos mortos”, diz Mahmoud Laminou, preso na Igreja há duas semanas, em declarações à Associated Press.

Apesar de os Anti-Balaka serem maioritariamente cristãos, os padres também sabem que o facto de estarem a proteger os muçulmanos lhes pode custar a vida: “Em passeios pela vila já me apontaram armas à cara quatro vezes. Ligam-me para o telemóvel a dizer que me vão matar quando os capacetes azuis se forem embora”, admite o padre Justin Nary.

Mas o outro padre, Dieu-Seni Bikowo é claro quanto à posição da Igreja.“Para nós não são muçulmanos nem cristãos. São pessoas – pessoas em perigo. Os Anti-Balaka não são cristãos. São ladrões que estão a lucrar com a revolta contra os muçulmanos”.

Apesar de cercados por milicianos armados, os padres sabem que podem contar com o apoio da hierarquia católica do seu país. O Arcebispo de Bangui, especialmente, tem sido incansável na denúncia à violência anti-islâmica que tomou conta do país nas últimas semanas.

O novo Governo já jurou combater os anti-Balaka e a situação nas principais cidades está mais calma, mas nas zonas rurais a perseguição mantém-se.