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“É hora de clarificar que queremos um Estado islâmico na Síria”

26 set, 2013

A oposição democrática vai perdendo peso e influência na revolta no país, enquanto os grupos islamitas ganham cada vez mais protagonismo.

Uma coligação de grupos rebeldes na Síria considera que é hora de clarificar o que querem para o país quando, e se, derrubarem o regime de Bashar al-Assad.

“Considerámos que é hora de anunciar publicamente e claramente o que queremos, que é lei sharia para o país e enviar uma mensagem para a coligação da oposição de que já passaram três anos e ainda não fizeram nada de bom para a revolta na Síria nem para as pessoas que sofrem lá.”

As palavras, registadas pelo “New York Times”, são de Mohannad al-Najar, um activista próximo dos líderes da Brigada Al Tawhid, são uma demonstração clara de como os grupos islamitas estão a ganhar peso na revolta na Síria.

A oposição ao regime de Bashar al-Assad é composta por uma multitude de grupos armados. Segundo algumas estimativas, cerca de 50% dos combatentes são islamitas. A coligação tem contado com o apoio de muitos governos ocidentais, mas a liderança secularista e pró-democrática está a perder cada vez mais influência.

Vários dos grupos islamitas, incluindo alguns que supostamente respondiam perante o Supremo Conselho Militar, que é apoiado por países como os EUA, Reino Unido e França, assinaram uma declaração que pede a unidade dos rebeldes por detrás da ideia de transformar a Síria num Estado islâmico.

Este desequilíbrio de forças em favor dos fundamentalistas é um embaraço para os ocidentais que apoiam os rebeldes e joga a favor de Assad, que sempre disse que combatia terroristas e fundamentalistas que quere destruir o seu país.

A oposição síria tem sofrido alguns revezes militares nos últimos meses e muitos estavam apostados numa intervenção ocidental para enfraquecer o regime de Assad, mas à medida que essa opção se torna menos provável, é natural que muitos dos grupos se sintam frustrados com uma liderança que tem insistido em dizer-se pró-democrático sem ter conseguido, até hoje, receber apoio militar concreto por parte dos países democráticos.

A declaração dos grupos islamitas surge precisamente numa altura em que os países ocidentais que se opõem ao regime de Assad procuravam consolidar e fortalecer a oposição.

O conflito na Síria começou em Março de 2011 como um protesto pacífico contra quatro décadas de governo da família Assad. Acabou por se tornar numa guerra civil, que já matou mais de 100 mil pessoas.