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Marinho e Pinto: "Isto é um caso de polícia. Foi quase um assalto ao partido"

25 mai, 2015 • João Carlos Malta

O 1º congresso do Partido Democrático Republicano (PDR) ficou marcado pela interrupção da votação para o Conselho Nacional. A surpresa do aparecimento de uma lista concorrente e do alegado aparecimento de militantes de última hora fez estalar o verniz no partido liderado por Marinho e Pinto.

Marinho e Pinto: "Isto é um caso de polícia. Foi quase um assalto ao partido"

Marinho e Pinto já era líder, a declaração de princípios e os estatutos estavam aprovados e só faltava a eleição para o Conselho Nacional do 1º Congresso do Partido Democrático Republicano (PDR). Eis quando apareceu uma lista concorrente liderada por Alexandre Almeida, ex-militante do Movimento Partido da Terra (MPT) que seguiu o ex-bastonário no novo partido.

E é aqui que começa a polémica. Marinho e Pinto fala de uma inusitada quantidade de pessoas que se inscreveram durante a eleição e que tentaram fazer “uma tomada do partido”. Os relatos no local falavam de fiéis da Igreja Maná (à qual a mulher de Alexandre Almeida pertence) que chegaram em grande número para se inscreverem no partido. 

Alexandre Almeida contrapõe e afirma que ele e os que nele votaram apenas exerceram os direitos de militantes. Ele que tem 42 anos, é natural de Lisboa, trabalha na Marinha Mercante e tem um trajecto político que divide em dois momentos: “Entrei no MPT pela mão do grande ideólogo do ambientalismo em Portugal, o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, e saí pela mão de alguém capaz de mudar isto tudo [Marinho e Pinto].”

Os estatutos do partido dizem que: “A primeira Assembleia Geral de filiados é constituída por todos os que, até à realização desse acto, dia 24 de Maio, presencialmente se inscrevam nas mesas preparadas para o efeito, nos termos regulamentares e estatutários já difundidos, ficando a partir desse momento acreditados para exercerem todos filiados participantes na Assembleia”.

E é na interpretação do “até” que as opiniões se dividem. O ex-bastonário lê-o como se circunscrevendo ao período antes das eleições, Alexandre Almeida interpreta-o como significando “durante as eleições”.

A repetição do acto eleitoral ocorrerá dentro de duas semanas.

A Renascença falou com os dois protagonistas do caso. E ponto por ponto explica o que os separa.

O que aconteceu no congresso?
Alexandre Almeida (AA)
- “O que aconteceu deixou-me  preocupado e espantado. Um grupo de cidadãos livres, em pleno direito dos seus deveres e direitos democráticos, decidiu avançar com uma lista para o Conselho Nacional. Essa lista foi encabeçada por mim e, a meia hora do fecho das urnas, o dr. Marinho e Pinto entrou de rompante e interrompeu a votação, dizendo: 'pára tudo, pára tudo. Há aqui um problema'." (…)

“Alguém lhe sussurrou aos ouvidos que havia um grupo de pessoas organizadas, que chegara da parte da tarde de camioneta, e estariam a tomar conta do partido. Posso dizer que havia 670 pessoas no congresso e, da parte da tarde, entraram meia dúzia delas. A maior parte das que lá estavam veio da parte da manhã [quando ocorreram as outras votações]”.

Marinho e Pinto (MP) - “Estavam a votar pessoas que não estavam inscritas no partido e que apareceram inopinadamente depois da votação ter aberto, ou seja à tarde e quando a votação para o Conselho Nacional foi aberta. Quem tem direito a eleger os órgãos do partido são os filiados e não pessoas que aparecem de repente quando está a decorrer a eleição.” (…)

“Foi quase um assalto ao partido. E um assalto responsabiliza o assaltante e não as vítimas. Nós resistimos e controlámos a situação e remediámos os danos.” (…)

“Vamos fazer a eleição no próximo dia 13 de Junho com os militantes e os filiados do partido e não com multidões que aparecem. Isto é um caso de polícia. Estamos a analisar, mas as coisas estão filmadas. Ponderamos apresentar isto na PJ porque se tratou-se de um acto gravíssimo que pode configurar a prática de um crime [invasão ou perturbação de assembleia partidária].”

Mas aqueles que ontem acorreram ao Fórum Lisboa podiam ou não inscrever-se?
MP
- “Podiam até ao início do congresso. E assim se fizeram algumas inscrições. Foi um número reduzido porque a maioria das pessoas estavam inscritas nos meses anteriores.” (…)

“O senhor que encabeçava a lista B não estava inscrito no partido. Parece que se inscreveu ontem, não dentro do prazo, mas muito depois de o congresso ter começado. Constituiu a lista e trazia as pessoas para fazer uma tomada do partido.” (…)

“Ele que não diga o contrário que é falso. Onde está a ficha que ele remeteu para o partido? Nunca se inscreveu e ontem fê-lo já bastante depois de o congresso começar.” (…)

“Não há problema nenhum quanto a listas, porque eu sempre defendi a pluralidade de listas em eleições democráticas como sinal de vitalidade da democracia e nunca fui adepto de listas únicas. Se o problema fossem as listas ela não teria sido aceite e havia razões para isso, mas o problema estava em quem apareceu, inopinadamente, no congresso e foi ao balcão quase à força e tirou as folhas de voto e foi votar. Isso não é inadmissível.”

AA - “Isso são invenções de regras. Se eu o fiz [inscrever-me no partido ontem], outros elementos da lista dele também o fizeram.” (…)

“Eu votei no dr. Marinho e Pinto para a eleição de presidente e o voto contou. As regras eram iguais para todos e, entre as 9h30 e as 16h00, as pessoas podiam-se inscrever no partido.” (…)

“Estou no partido há um ano, mas só ontem fiz a inscrição como muitos outros”.

Eram companheiros no Movimento Partido da Terra. Porquê este choque?
MP
- “Não fomos colegas porque ele é que era do partido, da Comissão Política, e eu sempre fui independente. Tentei mudar o partido. O que aconteceu [no MPT] é que numa reunião ele foi muito humilhado pelos colegas de direcção e eu intervim em defesa dele.” (…)

“Se ele saiu do MPT para o PDR porque é que nunca se inscreveu depois dos trabalhos terem começado?”

AA - “Eu lutei por ele no MPT, fui o único da Comissão Nacional a fazê-lo, e sai com o dr. Marinho e Pinto quando a democracia foi posta em causa. Estive na rua com ele, a recolher assinaturas, ele é a pessoa que nos juntou a todos.” (…)

“Sou novo demais e pequeno demais para fazer qualquer tipo de oposição, mas não me podem cortar a minha liberdade constitucional e democrática.” (…)

“Se o dr. Marinho e Pinto se deixar enganar e persistir no engano ficarei desiludido”.

Havia mesmo elementos da Igreja Maná que se tentaram inscrever durante o acto eleitoral?
AA - “Isso é um insulto à Constituição. Qualquer pessoa que esteja no país sejam eles chineses, indianos, cabo-verdianos ou brasileiros, que professem a religião islâmica, cristã, budista, se apresentem à porta de um partido e se queiram inscrever não o podem fazer? Onde é que paramos? Isso não é de um partido democrático. Essa pergunta nem devia ser feita porque inclui uma carga de xenofobia que é inaceitável.”

E o futuro do partido? Sairá a imagem abalada?
MP
- “Vamos fazer a eleição no próximo dia 13 de Junho com os militantes e os filiados do partido e não com multidões que aparecem. Isto é um caso de polícia. Estamos a analisar o caso, mas as coisas estão filmadas para apresentar isto na PJ porque tratou-se de um acto gravíssimo que pode configurar a prática de um crime.” (…)

“Podia ter chamado a polícia e identificado as pessoas. Mas não o fiz para evitar esta chicana pública organizada.” (…)

“Não estou preocupado. Vamos ultrapassar isto porque já ultrapassámos muitas dificuldades que foram levantadas. Já criaram um site com o nosso nome, impediram-nos de concorrer à eleição na Madeira, e os órgãos de comunicação social como a Renascença só se interessam pelo partido em situações como esta, onde há chicana e não para divulgar as nossas posições junto do eleitorado. A maioria dos média tem silenciado as acções do PDR. São adversidades que temos de ultrapassar e vamos ultrapassar. Vamos ser alternativa”.

AA - “Não sei o que irei fazer, vou reunir com as pessoas que me apoiam e perceber o que vamos fazer. Tenho a certeza que, como arauto da democracia, o dr. Marinho Pinto, obviamente, não vai deixar que uma desinformação que lhe chegou aos ouvidos, e tomou proporções desagradáveis, vá defraudar os 50 membros que deram o seu nome a uma alternativa.” (…)

“Uma coisa é haver unidade no partido, sou a favor do dr. Marinho e Pinto. Outra coisa é haver unicidade no projecto. Todos devem remar para o mesmo lado, mas cada um no seu remo. Isto não é um clube de fãs, é um partido político onde as pessoas são livres”.