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Passos soube da demissão de Portas por SMS

05 mai, 2015 • Paula Caeiro Varela

Biografia do primeiro-ministro, da autoria de Sofia Aureliano, faz revelações sobre o Verão quente de 2013 em que o Governo de coligação esteve por um fio.

Passos soube da demissão de Portas por SMS

Dois de Julho de 2013, o dia mais quente para a história da coligação PSD/CDS, que quase derruba o Governo. A história é conhecida, mas uma biografia de Pedro Passos Coelho lançada esta terça-feira divulga alguns detalhes sobre a visão do primeiro-ministro do episódio que marcou o mandato do actual Governo.

Vítor Gaspar tinha formalizado o seu pedido de demissão na véspera, a 1 de Julho. O mal-estar criado entre os partidos da maioria durante a sétima avaliação regular da “troika” tinha levado à decisão do ministro das Finanças.

A biografia conta que 15 dias antes Passos Coelho tinha apresentado a Paulo Portas a sua escolha para substituir Gaspar: Maria Luís Albuquerque. O líder do CDS não concordou e sugeriu uma alternativa. Passos não mudou de ideias.

No dia 2 de Julho, data para a posse da nova ministra das Finanças, Paulo Portas vai a São Bento ao fim da manhã e diz que não está confortável com a escolha. Passos Coelho tenta convencê-lo.

O livro de Sofia Aureliano, assessora do grupo parlamentar do PSD, conta que o chefe do Governo estava longe de equacionar o que se seguiu. Passos Coelho revela, na primeira pessoa, que depois de almoço recebeu uma mensagem de telemóvel de Paulo Portas "a dizer que tinha reflectido muito e que se ia demitir".

O líder do CDS não atendia o telefone nem dava mais nenhuma justificação. Faltavam pouco mais de duas horas para a tomada de posse. "O primeiro-ministro informou o Presidente da República, garantindo que não aceitaria a demissão até conseguir falar com ele", lê-se no livro.

Seguiu-se o que se sabe. Passos Coelho tinha reunião com os dirigentes do PSD e a notícia apanhou todos de surpresa na São Caetano à Lapa. Os telefones não paravam. "Depois de muita insistência", acrescenta a autora, Passos consegue falar com Portas: pergunta-lhe o que significa a decisão e se o CDS quer sair do Governo. Portas responde que é pessoal e que não sabe o que quer o seu partido.

O primeiro-ministro confessa que a posse realizou-se "num ambiente muito tenso. Não havia ideia sobre se a coligação se mantinha".

Passos Coelho ficou a falar com o Presidente da República, Cavaco Silva. Voltou a São Bento, reuniu-se com alguns ministros e, no fim, como se sabe, a coligação manteve-se.