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Presidenciais

“Há ainda muita poeira no ar”, diz Carvalho da Silva

18 abr, 2015 • José Bastos

“É preciso muita clarificação. Há ainda muita poeira no ar”, afirma Manuel Carvalho da Silva sobre uma eventual candidatura presidencial. “Neste momento não sou candidato”, sublinha em declarações ao programa Conversas Cruzadas.

“Há ainda muita poeira no ar”, diz Carvalho da Silva
“É preciso muita clarificação. Há ainda muita poeira no ar”, afirma Manuel Carvalho da Silva sobre uma eventual candidatura presidencial. “Neste momento não sou candidato”, sublinha no Conversas Cruzadas.

No sábado em que o matemático Paulo Morais anuncia numa cerimónia no Porto a intenção de concorrer a Belém, Carvalho da Silva defende como prioridade pessoal “a reflexão num compromisso de desenvolvimento para o país”.

Face à probabilidade de Sampaio da Nóvoa formalizar a sua candidatura numa semana plena de simbolismo - de 25 de Abril a 1 de Maio – o antigo líder da CGTP diz “não comentar nomes” recusando a leitura política do gesto do reitor honorário da Universidade de Lisboa.

“Candidatos apresentados só conheço um: é Henrique Neto”, observa. “Em função da formalização de outras candidaturas logo verei”, acrescenta, não deixando de rematar com um enigmático: “nem tudo o que está a ser feito nas candidaturas é à margem dos partidos”.

Há um mês dizia não viver obcecado com uma candidatura presidencial, mas admitia a possibilidade. Nesta altura há algum elemento novo – externo ou pessoal – que altere essa manifestação de princípio?
Acho que neste momento há uma premência de resposta ao que está a ser moldado e a ser quase a comprometido para o futuro, em matéria de políticas de austeridade. Gostava de ver gente de diversos sectores a mexer-se em força nessa resposta. Era preciso uma grande unidade de diversos sectores em torno destes pontos como, de resto, houve em outros tempos.

E vê-se com um factor agregador dessa unidade?
Eu ando empenhado – como sempre andei, mas hoje até com maior preocupação – na resposta a estes problemas. Nisso ando. Agora, o Presidente da República é um órgão unipessoal. A construção de uma candidatura é obrigatoriamente um processo colectivo. Neste momento não sou candidato. Acho que, de facto, há ainda muita coisa a clarificar.

Não é candidato ou não é... ‘ainda’ candidato?
Neste momento não sou candidato. Não apresentei nenhuma candidatura. Como afirmou na primeira pergunta não vivo obcecado com isso. Se tivesse a obsessão de ser candidato já tinha sido candidato noutras ocasiões. Como, certamente saberão, fui persistentemente empurrado para essa situação e achei que não devia ser pelo cenário em causa. Como agora tenho a obrigação de analisar e de assumir as minhas responsabilidades em função das interpretações que possa fazer.

Ainda está imerso nesse processo de avaliação?
Como eu disse há um mês há, de facto, ainda muita poeira no ar. É preciso muita clarificação. É preciso muita identificação de factores diversos.

Recorrendo à sua metáfora que adjectivos qualificam “a poeira ainda no ar”?
Respondo com dois aspectos: no presente, a grande premência é contribuir-se para a identificação do que significam as políticas que estão a ser seguidas. Ainda da interpretação do sentimento do povo e do que limita uma acção ainda mais interventiva do conjunto da sociedade na definição de políticas e do rumo do país. Esta é a primeira prioridade a estar presente numa qualquer reflexão para uma candidatura. A segunda prioridade é a necessidade de um compromisso de desenvolvimento para o país. É preciso trabalhar este factor com frontalidade. Neste momento não há possibilidade desse novo compromisso surgir a partir de dinâmicas do chamado “centrão”. Ou, se quisermos, a partir dos actores que têm dominado a condução da política no nosso país. Não quero dizer que eles estejam de fora desse compromisso. O que estou a dizer é que não há qualquer perspectiva que o compromisso resulte só da sua acção. Há um esgotamento.

Enquadra nesse ‘centrão’ uma eventual candidatura do Prof. Sampaio da Nóvoa?
Não vou comentar nomes. Não comento nenhum. Acho que todos os portugueses merecem respeito e em particular aqueles que se têm apresentado como pretendendo ser candidatos. O que me preocupa é um compromisso de desenvolvimento para o país. Dentro das limitações que temos, à luz da nossa condição de membros da União Europeia, por exemplo, precisamos de ver como podemos criar uma dinâmica produtiva no país. Ver como podemos produzir de forma mais útil, como podemos engajar amplos sectores empresariais numa nova atitude.  Precisamos de novas alianças. Precisamos de recuperação da classe média, de camadas intermédias do tecido social para reequilibrar a sociedade. Precisamos muito da revalorização do trabalho e de medidas que não deixem destruir e recomponham o estado social. Isto tem de ser feito respeitando todos, mas tem de incorporar dinâmicas vindas das margens para o centro espevitando e dinamizando, na sociedade, novas alianças. É disso que precisamos.

Mas em que margem coloca o Prof. Sampaio da Nóvoa?
Candidatos apresentados, neste momento, só conheço um: é Henrique Neto. Pessoa que me merece todo o respeito e com quem me cruzei ao longo da vida. É um empresário que achou dever intervir agora. Em função da formalização de outras candidaturas logo verei. Mas, insisto, não vou fazer mais comentários.

Mas a formalização da candidatura do Prof. Sampaio da Nóvoa não vai disputar o seu ‘espaço natural’?
Não vou fazer mais comentários. O que lhe digo é o que penso sobre os grandes desafios que se colocam à sociedade portuguesa. Grande premência é esta: trazer para o quotidiano a realidade das interpretações e da vida que os cidadãos portugueses estão a viver.

Permita-me ainda duas notas (na sequência de observações do prof. Santos Almeida): as presidenciais são tão importantes para o país como as legislativas. Não são é para a governação. É outra coisa. Mas como se demonstrou pela actual presidência – pela negativa – são eleições muito importantes para o país. A outra nota é a de que, até agora, não vi o surgimento de mais candidatos à margem dos partidos que em eleições anteriores. Até agora estão apenas declarações de intenções. Algumas de forte vontade, mas, vamos ver, porque nem tudo o que está em curso é feito à margem dos partidos.