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Passos insiste em reduzir despesa pelo corte de salários

10 dez, 2013

Primeiro-ministro diz que estamos a viver uma época muito especial e reforça que não há margem de manobra para 2014. Abre também portas à privatização da empresa Águas de Portugal.

O primeiro-ministro defende, numa entrevista ao “Jornal de Negócios”, publicada esta terça-feira, que “não é possível diminuir de forma sustentada a despesa do Estado sem mexer em pensões e salários”.

Esta aposta declarada no empobrecimento não impede Pedro Passos Coelho de afirmar, em contrasenso, que o Governo não pretende “um modelo de desenvolvimento assente em baixos salários”.

O primeiro-ministro garante que discorda da medida defendida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de baixar mais as remunerações no sector privado, por considerar que o sector já corrigiu "em termos nominais cerca de 11% do valor dos salários".

Quando questionado se o Governo não terá privilegiado os cortes em salários e em pensões em vez de cortar nas rendas da energia ou nos contratos de parcerias público-privadas, Passos Coelho responde que essa análise invoca "uma grande demagogia no juízo populista".

"Qualquer ideia que se pretenda vender ao país de que o Governo está a impor um sacrifício exagerado aos portugueses e, em particular, aos funcionários públicos, que era completamente dispensável se tivéssemos a coragem de ir buscar o dinheiro aos ricos, pressupõe uma mentalidade que julgava já afastada do pensamento mediano em Portugal", defende.

O chefe do Governo considera especial a conjuntura que estamos a viver, pelo que, mesmo com um desempenho orçamental melhor em 2013, não há qualquer margem de manobra para 2014.

Para 2015, ano de eleições legislativas, Passos Coelho diz que não garante a descida do IRS, o que quer dizer que a sobretaxa de 3,5% pode manter-se.

No caminho para a recuperação económica do país, admite a abertura a privados das Águas de Portugal e considera que a TAP não conseguirá recuperar nos próximos anos sem um processo de privatização.

Para prosseguir a estratégia delineada, o primeiro-ministro pede mais solidariedade ao PS e lamenta a falta de coragem da actual direcção para ajudar o Governo a concretizar o que o próprio Partido Socialista negociou: o pedido de assistência externa.

Pedro Passos Coelho considera que o programa de ajustamento "estava bem desenhado, mas mal calibrado", partindo de défices irrealistas, o que levou a medidas mais violentas por parte do seu executivo. Contraria também a ideia defendida por vários economistas de que o Estado deveria apoiar a economia investindo. “O Estado deve ajudar a economia contendo a despesa", refuta.

"Enquanto os investidores externos não acreditarem que nós reduziremos o peso da dívida, não é possível criar investimento directo externo e investimento na própria dívida pública", argumenta.