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Não há acordo de "salvação nacional"

19 jul, 2013 • Mara Dionísio e Filipe d'Avillez

Corte de 4,7 mil milhões na despesa do Estado é uma das divergências. António José Seguro deixa acusações ao PSD e ao CDS e devolve a palavra ao Presidente da República, que já reuniu com os partidos envolvidos.

Não há acordo de "salvação nacional"
António José Seguro acusa PSD e CDS de serem responsáveis pelo fracasso das negociações. PS devolve a palavra ao Presidente da República.

Falharam as negociações entre PS, PSD e CDS para o "compromisso de salvação nacional" pedido por Cavaco Silva. António José Seguro, que fez uma declaração ao país ao início da noite desta sexta-feira, acusa os partidos que suportam o Governo de "terem inviabilizado o acordo" e diz "que cabe agora ao Presidente da República decidir o que fazer".

O líder dos socialistas, o primeiro dos três líderes partidários a assumir o fracasso das negociações, afirmou que PSD e CDS não cederam em pontos que o PS considera essenciais. "Esta política não dá os resultados pretendidos."

Num documento que o PS decidiu publicar no site oficial, é discriminado um dos pontos de discórdia. "Parar com os cortes de 4,7 mil milhões de euros acordados entre o Governo e a 'troika' na sétima avaliação, nomeadamente parar com os despedimentos na função pública, com mais cortes nas pensões actuais, com a 'contribuição de sustentabilidade do sistema de pensões' e com a redução de vencimentos", lê-se.

Na declaração que fez ao país, António José Seguro salvaguardou que havia possibilidade de convergência em algumas propostas, mas realçou que o PS "não muda as suas posições". "Não vale a pena continuar conversações só por conversações", acrescentou.

O líder dos socialistas sustentou que PSD e CDS não fizeram tudo o que estava ao seu alcance. "Fizemos diálogo com todos, com boa-fé. Impus-me silêncio para garantir discrição em prol do êxito deste compromisso. Infelizmente, nem todos o fizeram", acusou, numa indirecta a Pedro Passos Coelho, que aproveitou o debate da moção de censura ao Governo apresentada quinta-feira para dizer que este era "o momento de o PS mostrar que sabe assumir a responsabilidade de contribuir activamente para a resolução dos problemas nacionais".

Questionado sobre as opções que agora ficam em cima da mesa, António José Seguro afirma que Presidente da República tem a palavra. "Qualquer que seja a decisão, o PS vai continuar a bater-se por políticas que ajudem ao crescimento, ao emprego e à estabilização da dívida pública e do défice."

Minutos antes da declaração de António José Seguro, a Presidência da República emitiu um comunicado lacónico, que não avançava com detalhes sobre o desfecho das negociações. "O Presidente da República recebeu hoje, em audiência, sucessivamente, o secretário-geral do Partido Socialista, Dr. António José Seguro, o presidente do Partido Social Democrata, Dr. Pedro Passos Coelho, e o presidente do CDS-Partido Popular, Dr. Paulo Portas, para conhecer a avaliação que os respectivos partidos fazem do processo negocial visando alcançar um compromisso de salvação nacional." E mais não diz o texto.

A crise política arrasta-se há duas semanas, depois das demissões do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, a 1 de Julho, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, no dia seguinte. Mais tarde, e após Passos ter dito que não aceitava a demissão do líder do CDS, foi negociado um novo acordo de coligação que prevê a subida de Portas a vice-primeiro-ministro.

A 10 de Julho, o Presidente da República fez uma comunicação ao país onde não se referiu à solução que lhe foi proposta pela maioria e na qual propôs um "compromisso de salvação nacional" entre PSD, PS e CDS, que inclui eleições a partir de Junho de 2014. Na sequência desta proposta, os três partidos iniciaram as conversações no passado domingo.