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António José Seguro

"Há uma primavera a despontar, há um Abril a nascer em Portugal"

03 abr, 2013 • Matilde Torres Pereira

Na apresentação da moção de censura ao Governo, o PS defendeu que Passos Coelho e os seus estão isolados pelo "fracasso". "Fica para a história um primeiro-ministro sempre a anunciar a retoma para o ano seguinte."

"Há uma primavera a despontar, há um Abril a nascer em Portugal"
O secretário-geral do PS afirmou hoje que apresenta a moção de censura ao executivo PSD/CDS por "dever patriótico" e que os socialistas assumem "com clareza" a responsabilidade política de liderar um novo Governo no país. A resposta do primeiro-ministro não tardou, afirmando que esta moção se trata "de uma visão panfletária, que explora demagogicamente a insatisfação com a crise".
O líder do Partido Socialista apresentou esta quarta-feira no Parlamento uma moção de censura que pretende que seja um "ponto de partida" para uma alternativa política no país. António José Seguro considera que "há uma primavera a despontar, há um Abril a nascer em Portugal".

Sabendo que conta com a união dos partidos da esquerda, mas que a moção tem chumbo garantido por força dos votos da maioria, o secretário-geral do PS sustentou que o Governo está "isolado e fracassado". "O fracasso é a imagem de marca deste Governo, [que] não acertou uma única meta", disse no Parlamento, durante o discurso de abertura da discussão da moção, que durou quase 14 minutos.

"Exigir pesados sacrifícios aos portugueses nunca foi problema para este Governo, mas na hora de mostrar resultados refugiou-se em desculpas e escondeu-se atrás da crise internacional que antes tinha renegado e agora lhe dá jeito referir", criticou. O líder socialista enumerou os sucessivos "falhanços" ao nível do défice e da dívida pública, dizendo que "fica para a história um primeiro-ministro sempre a anunciar a retoma para o ano seguinte".

"Mas a desgraça não fica por aqui", continuou António José Seguro, que nomeou os números do desemprego. "Um milhão de desempregados é uma autêntica tragédia social. Esta tragédia social tem um responsável: Pedro Passos Coelho", referiu. 

"Pela primeira vez desde 1975, Portugal desce no índice de desenvolvimento humano, [é]um país pobre e endividado", afirmou Seguro, antes de projectar o desígnio da moção de censura. "[Seria] um pesadelo deixá-lo [o Governo] mais dois anos. Livrar os portugueses do Governo tornou-se um imperativo nacional. Deixar seguir este Governo é ser cúmplice de um processo de destruição do nosso país."

As propostas
O líder do maior partido da oposição defende que a moção de censura apresentada pelos socialistas é "um porto de abrigo". "O PS não se fica pela censura. Sempre dissemos que a moção de censura, mais do que um ponto de chegada, é um ponto de partida. A crise política já existe. Esta é uma moção de esperança, um porto de abrigo para os portugueses. Essa alternativa é apresentada pelo PS."

De seguida, e antes de nomear algumas propostas, Anónio José Seguro sustentou que o rumo que o PS quer seguir é apoiado por "um vasto consenso social". "Alguns pensam que um Governo do PS seria igual, mas não. Sempre apostámos na via do crescimento económico e no investimento, mesmo quando parecia ser crime falar em investimento. Há um vasto consenso social para este caminho alternativo", assegurou Seguro, citando parceiros sociais, associações patronais e até o CDS-PP.

O PS no Governo, garante, teria "como prioridade o emprego, o emprego, o emprego". "Parava com o corte de quatro mil milhões" na segurança social, educação e na saúde dos portugueses. Seguro diz que aumentaria o salário mínimo e as pensões mais baixas, cortaria o IVA da restauração para 13%, faria um plano de reabilitação urbana e criaria um banco de fomento, "a par da estabilização do quadro fiscal".

"O PS defende disciplina orçamental", acrescentou ainda Seguro. A afirmação foi recebida com risos da bancada do Governo, nomeadamente do ministro das Finanças, Vítor Gaspar.

Renegociar o programa da "troika"
Na sequência da tese defendida no texto da moção de censura, o líder do PS diz que quer apostar numa renegociação "profunda" com a "troika". "Infelizmente não dependemos só de nós próprios para sair da crise. Propomos uma renegociação profunda do programa de ajustamento", começou por dizer.

"Sabemos que é difícil, mas nunca acontecerá sem uma posição política forte. Portugal precisa de um Governo que defenda os portugueses na Europa", defendeu ainda António José Seguro, perante fortes aplausos da bancada socialista.

Para o PS, de acordo com Seguro, "estar sob assistência financeira nunca significou submissão", até porque "a nossa dignidade como povo e como país não está à venda". "Sem esta renegociação é irrealista pensarmos em cumprir as metas e os prazos estabelecidos. Além de razões de natureza ideológica, trata-se de uma questão de óbvio bom senso", sustentou.

"O PS assume que quer liderar a alternativa de Governo e criar um horizonte de esperança para as gerações mais jovens. A maioria parlamentar quer manter o país em estado de coma. Há uma primavera a despontar, há um Abril de novo a nascer em Portugal", concluiu o secretário-geral socialista.