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Português faz 30 mil km até à Mongólia para mostrar filmes a crianças pobres

24 ago, 2015

João Meirinhos vai percorrer a Ásia Central em busca de crianças que nunca tenham visto um filme ou que vivam em aldeias isoladas onde o cinema em grande ecrã é um acontecimento raro.

Português faz 30 mil km até à Mongólia para mostrar filmes a crianças pobres

O português João Meirinhos está a viajar até à Mongólia no âmbito de um projecto internacional que mostra filmes a crianças desfavorecidas que nunca viram cinema.

Meirinhos, de 30 anos, juntou-se em Março ao "Cinéma du Desert: On the Road to Mongolia", um projecto conjunto de membros da organização francesa Lèzards Migrateurs e da italiana Bambini Nel Deserto, que mostram filmes a comunidades desfavorecidas.

Até Novembro, o português vai cumprir mais de 30 mil quilómetros, passando por países como Roménia, Bulgária e Turquia, até chegar à Mongólia.

"Resolvemos atravessar toda a Ásia Central em busca de crianças que nunca tenham visto um filme na vida ou que vivam em aldeias isoladas onde cinema em grande ecrã é um acontecimento raro", explicou Merinhos à Lusa.

Uma lamechice "impagável"
Meirinhos, que é licenciado em Ciências da Comunicação, diz que se envolveu no projecto pela reacção das crianças e dos seus familiares, por "aqueles momentos em que os seus olhos brilham".

"Pode parecer lamechas, mas ao mesmo tempo é impagável", diz.

Neste momento, o português integra uma equipa com franceses, uma italiana, uma russa, americanos e alemães.

O grupo é sempre recebido com surpresa. "Por mais contacto que já tenham tido com a mundialização através de uma parabólica, desta vez ela chega-lhes directamente a casa. Podem-nos tocar e brincar e ver que não somos feitos de nada de diferente deles e gozar com as pequenas diferenças culturais que também partilhamos", diz.

Esses momentos, garante, acabam por ser tão enriquecedores para os voluntários como para as crianças. "Partilhamos divertimento, sorrisos, momentos de partilha... É a capacidade de nos pormos nos sapatos destes putos que vivem no meio do nada, do deserto, da estepe", diz.

Vindimas, copos e casas
No Verão de 2008, depois de alguns anos a trabalhar como "freelancer" para várias produtoras de audiovisual nacional, Merinhos decidiu viajar.

"Desde então, acho que estive em Portugal dois anos na totalidade, aos pedaços, uns meses aqui, outros ali, mas nunca mais de seis meses, uma vez. Já fiz um pouco de tudo. Desde vindimas em França, reabilitar casas abandonadas em Barcelona, 'barman' na Estónia", conta.

Entre os anos de 2010 e 2011, Meirinho foi de carro até ao Burkina Faso e voltou numa viagem que durou cinco meses.

"Quando fui para África não tinha ideia no que é que me estava a meter. Queria ajudar e acima de tudo queria ver com os meus próprios olhos a África subsariana, a tal pobreza extrema que toda gente menciona mas raramente vem visitar. Rapidamente, apercebi-me do poder da nossa acção aparentemente simples. A inocência que ainda existe em algumas partes do mundo em relação à imagem em movimento."