O que propõe a Grécia para se manter no euro?

22 jun, 2015 • Marta Grosso e André Rodrigues

A Renascença falou com o porta-voz da embaixada grega em Lisboa. Elias Galanis garante que Atenas não está interessada em abandonar o grupo da moeda única e sublinha a importância geoestratégica do país para a Europa.

O que propõe a Grécia para se manter no euro?
Esta segunda-feira é dia de reunião extraordinária do Eurogrupo para debater o problema grego. Depois de trocas de palavras azedas, de acusações e ultimatos, Atenas apresentou uma nova proposta, onde admite mais cortes nas pensões e no IVA.

Em declarações à Renascença, o porta-voz da embaixada grega em Lisboa, Elias Galanis fala em "cortes muito significativos nas reformas mais elevadas" e recorda que o governo liderado pelo Syriza "já expressou uma vontade profunda de reformar todo o sistema de administração pública, bem como intensificar o combate à corrupção e à evasão fiscal de forma mais coordenada".

Da parte da Comissão Europeia, o chefe de gabinete de Jean-Claude Juncker, o presidente do executivo comunitário, o novo plano grego é uma boa base para o progresso das negociações.

No total, as propostas do governo de Alexis Tsipras representam 2% do PIB, valor aquém do que pedem os credores: 2,5%. Atenas diz-se, contudo, disposta a avançar com mais medidas, caso haja um compromisso para o perdão da dívida.

O que propõe de novo a Grécia?

- Eliminar as reformas antecipadas a partir de 1 de Janeiro de 2016;

- Cortes adicionais nas pensões mais elevadas (que representam 80 mil pensionistas);

- Imposto extraordinário sobre as empresas com lucros anuais acima de 500 mil euros;

- Aumento na taxa de solidariedade para os rendimentos anuais superiores a 30 mil euros;

- Manutenção das três taxas de IVA (os credores exigem duas, mas a Grécia compensa com o aumento para a taxa máxima em vários produtos e serviços: 23%);

- Aceita meta de 1% do PIB para o excedente primário orçamental em 2015;

- Adopta cláusula de travão ao défice e à dívida no Orçamento, que inclui cortes automáticos na despesa sempre que a barreira for ultrapassada.

As propostas de Atenas foram apresentadas no domingo à chanceler alemã, Angela Merkel, ao Presidente francês, François Hollande, e a Juncker, que se reúne esta segunda-feira com o primeiro-ministro grego.

No encontro vão estar também os presidentes do Eurogrupo, do Banco Central Europeu e ainda a directora-geral do Fundo Monetário Internacional, o FMI.  Ao final da manhã, começa a reunião extraordinária do Eurogrupo e, mais tarde, o encontro dos chefes de Estado e de Governo europeus.

Grécia não é uma mera questão financeira
O porta-voz da embaixada da Grécia em Lisboa defende que, nas negociações, "deve prevalecer o espírito europeu de alcançar consensos" e sublinha que a Europa "tem de olhar para a totalidade do problema".

Elias Galanis refere-se, em concreto, à "situação geopolítica privilegiada da Grécia". E explica: "A Grécia está no sudeste do continente europeu. Temos o problema na Ucrânia, temos a crise da imigração ilegal no Mediterrâneo e a constante ameaça do Estado Islâmico. Todas estas partes do puzzle devem fazer parte de uma agenda mais ampla."

"A Grécia não está interessada em abandonar a Zona Euro"
Enquanto a tensão aumentava nas negociações com os credores, Alexis Tsipras fez uma visita à Rússia e devolveu, em Moscovo, o ultimato feito por Bruxelas: a austeridade imposta à Grécia é contrária aos princípios de solidariedade, democracia e justiça social – valores centrais da União Europeia. 

O porta-voz da embaixada grega garante à Renascença que o primeiro-ministro grego não foi pedir "ajuda financeira à Rússia" e que "as relações com a Rússia são estritamente comerciais".

"A Grécia é um país profundamente europeu. Sempre foi assim e assim continua a ser", assegura. Por isso, "a Grécia não está interessada em abandonar a Zona Euro".

Elias Galanis diz que Atenas quer "uma solução sustentável": "Não faz qualquer sentido prosseguirmos com um pacote de políticas de austeridade que deixou o tecido social da Grécia – sobretudo, os mais desfavorecidos – numa situação de enorme incerteza".

"Não vale a pena continuarmos por um caminho que, como já se viu, não nos levou a lado algum no que respeita ao desenvolvimento da nossa economia", sublinha.