Felipe VI quer uma “monarquia renovada para um tempo novo”
19 jun, 2014 • Marta Grosso
No seu primeiro discurso perante as cortes, o novo rei de Espanha apelou à unidade na diversidade. “Cabemos todos”, disse, terminando com um reconhecimento ao povo espanhol:“Sinto-me orgulhoso dos espanhóis”.
Felipe de Bourbon foi hoje proclamado Rei de Espanha. Felipe VI jurou perante as Cortes ser não só uma referência mas também um servidor das justas e legítimas exigências de todos os cidadãos, anunciando o início de uma monarquia renovada para um tempo novo. Apesar das dúvidas que atravessam Espanha relativamente à manutenção da monarquia, o povo saiu à rua para aclamar o novo monarca.
É com olhos postos no futuro, mas sem esquecer o legado do passado, que Filipe VI inicia o seu reinado. O novo rei de Espanha quer um país unido na diversidade, encontrando nas diferenças a força para manter o estatuto conquistado no seio da Europa e no mundo.
“Os cidadãos devem ser o eixo da acção política. Queremos uma Espanha em que todos os cidadãos mantenham a confiança nas instituições, numa sociedade baseada no respeito e civismo”, começou por afirmar o novo monarca espanhol, renovando a sua “fé na unidade da Espanha, da qual a Coroa é símbolo”.
Esta quinta-feira, no Parlamento, Felipe VI fez a exaltação da continuidade do caminho iniciado pelos seus antecessores (nomeadamente o seu pai, o rei Juan Carlos) e a defesa da necessidade de enfrentar os desafios deste século, referindo-se, a esse propósito, várias vezes ao papel dos “homens e mulheres da minha geração”.
“Os espanhóis da minha geração aspiram reactivar as nossas instituições, a primazia dos interesses gerais e fortalecer a cultura democrática”, destacou.
“O novo século nasceu sob o signo da mudança que nos situa numa realidade bem diferente do seculo XX. Todos sentimos que estamos a viver um tempo diferente, com incertezas e receios, que nos abrem também novas oportunidades de progresso. Esse desafio chama todos a agir. É uma tarefa que nos pede uma mudança de mentalidades e de atitudes, bem como determinação e visão de responsabilidade”, afirmou.
Felipe VI apontou, então, o desemprego como exemplo de um grande obstáculo a ultrapassar no país e comprometeu-se a participar nessa luta, ao lado das instituições democráticas. Referiu, depois, outro desafio do novo século: o ambiente, tema que tem merecido a sua atenção enquanto príncipe das Astúrias.
Ainda com os olhos postos no futuro, o novo rei de Espanha defendeu a importância de o país contribuir para o fortalecimento da Europa (“não é política externa, é um dos maiores projectos para o futuro de Espanha) e a defesa dos seus interesses e dos direitos dos seus cidadãos “no quadro das Nações Unidas”.
“Cabemos todos”
Felipe VI apelou a “que haja sempre pontes de entendimento” entre os espanhóis, um dos pilares que, nas suas palavras, fortaleceu o país ao longo dos séculos.
“Nesta Espanha unida e diversa, cabemos todos. Cabem todos os sentimentos e sensibilidades. Todas as maneiras de sentir espanhol. Temos de revitalizar todos os dias essa convivência”, sublinhou.
“Repito: quero uma monarquia renovada para um tempo novo. A minha esperança no futuro baseia-se na minha fé na sociedade espanhola, que mostra um grande espírito de renovação”, afirmou.
O novo rei terminou o seu primeiro discurso no Parlamento reforçou a sua fé no país e nos espanhóis: Temos um grande país. Somos uma grande nação. Sinto-me orgulhoso dos espanhóis e nada me honraria mais se não que os espanhóis se pudessem sentir orgulhosos do novo rei”.
“Começa o reinado de um rei constitucional”
Foi com convicção no papel da monarquia e manifestando respeito pelas instituições democráticas que Felipe VI iniciou o seu reinado.
“Um rei que deve estar de acordo com o exercício das funções constitucionais, respeitar o princípio da separação dos poderes e cumprir as leis aprovadas pelas cortes gerais. É minha convicção de que a monarquia poderá prestar um papel importante a Espanha e contribuir para estabilidade do nosso sistema político, favorecer o funcionamento do Estado e ser condutor de todos os espanhóis”, afirmou no Parlamento.
Mas ressalvou: “As exigências da Coroa não se esgotam nas funções constitucionais. Estou consciente de que a Coroa deve estar comprometida com a sociedade que serve e deve partilhar e sentir como próprios os seus sucessos e fracassos. Deve procurar aproximar-se aos cidadãos, merecer o seu respeito e preservar o seu prestígio, mantendo uma conduta íntegra e honesta, porque só assim poderá ser credora da moralidade necessária para cumprir a sua missão”.
Felipe VI é, desde esta quinta-feira, o novo rei de Espanha. Após a curta cerimónia militar no palácio da Zarzuela, em que o seu pai, o rei Juan Carlos, lhe impôs a faixa de capitão geral dos três ramos militares de Espanha, o novo monarca deslocou-se ao Parlamento, onde fez o seu primeiro discurso.
E começou pelos agradecimentos. Primeiro, ao seu pai. “Quero, com grande emoção, fazer uma homenagem de gratidão e respeito ao meu pai, o rei Juan Carlos I”, uma declaração seguida de aplausos.
“Há quase 40 anos, o meu pai referiu que queria ser rei de todos os espanhóis e foi. Fez com que tivéssemos um grande projecto de união nacional. Na sua pessoa, agradecemos a toda uma geração de cidadãos que abriu caminho para a democracia”, prosseguiu.
Depois, agradeceu à sua mãe, “a rainha Sofia, por toda uma vida de trabalho impecável ao serviço dos espanhóis. A sua lealdade e dedicação ao rei merece um tributo. Espero que possamos continuar a contar durante muitos anos com a sua experiência, apoio e carinho”.
Felipe VI fez ainda referência à sua educação, baseada “nos princípios democráticos” e em valores que agora também transmite às suas filhas: Leonor e a infanta Sofia.
O discurso, a que assistiram a rainha Sofia e a Infanta Elena, terminou com fortes aplausos, de pé, por parte de todos os parlamentares.