Carlos Gaspar

Caos no Iraque. Saída das tropas dos EUA foi "precipitada"

18 jun, 2014 • Henrique Cunha

Avanço de forças jihadistas demonstra, para o presidente do Instituto Português de Relações Internacionais, que os EUA não deviam ter abandonado o Iraque. O governo iraquiano não tem condições para "sustentar autonomamente o Estado".

O avanço jihadista no Iraque, depois de uma longa intervenção militar ocidental no território, reflecte que o plano norte-americano naquele país não acautelou esta hipótese, defende o presidente do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), Carlos Gaspar.

"O plano inicial [dos EUA] previa a permanência de forças armadas norte-americanas em território iraquiano durante um período prolongado. Mas o Presidente Obama foi eleito com um mandato para retirar as tropas do Iraque, mandato recebido em 2008", explica à Renascença.

"A retirada com mandato eleitoral e por pressão foi precipitada e aparentemente demasiado arriscada. E as autoridades iraquianas quiseram fazer uma demonstração da sua autonomia e da sua independência quando não a tinham. Aparentemente, não têm condições para sustentar autonomamente o Estado iraquiano", defende.

Para o presidente do IPRI, o financiamento dos jhiadistas poderá estar a ser feito pelas mesmas entidades que financiam os insurgentes na Síria. "Isto é, uma combinação de vários regimes autocráticos sunitas na região do Golfo".

Carlos Gaspar não descarta uma extensão da guerra civil da Síria para o Iraque. “De certa maneira já houve essa extensão da guerra para o norte do Iraque”.

Inimigos "sem distinção"
A lista de inimigos deste grupo militar sunita é “impressionante”. 

“Inclui não só os xiitas, consideradas hereges, mas também os cristãos de todas as denominações. Os cristãos que sobrevivem na Síria, assim como no Iraque, bem como os judeus. Estes movimentos jihadistas não fazem uma distinção entre o que são inimigos políticos e religiosos”, aponta.

Para evitar as consequências desta instabilidade, diz Carlos Gaspar, o Ocidente terá de conter e delimitar estes movimentos.

"Há medidas que deviam ser tomadas com toda a prioridade. Em primeiro lugar, garantir que o apoio aos refugiados existe, que é possível receber e proteger as minorias dos cristãos orientais, sobretudo na Síria. E limitar, tanto quanto possível, os efeitos de alastramento desta guerra civil."