Opinião

Primárias: Cumprir mais Abril

06 abr, 2014 • Álvaro Beleza, secretário do PS, apoiante de António José Seguro

Portugal ficará a dever a António José Seguro a realização desta segunda onda democrática do 25 de Abril.

Primárias: Cumprir mais Abril

As primárias, em Portugal, serão a maior reforma política desde o 25 de Abril de 1974. É abrir a política aos cidadãos. Não é só o “aparelho” a montar uma convenção, convidando cidadãos independentes ou simpatizantes, é uma reforma estrutural, em que os cidadãos decidem que candidatos querem. Assim, não são os líderes individuais a escolherem se um partido se abre mais ao menos ao exterior, são os cidadãos a decidir e participar. 

Em democracias muito mais participadas que a nossa os cidadãos elegem os candidatos dos partidos através das primárias externas. Os partidos só elegem os seus órgãos e dirigentes através de diretas internas para militantes. É assim em países como a França ou os EUA. Em França, quando o Partido Socialista implementou as primárias, o fortíssimo envolvimento dos cidadãos simpatizantes  nessa fase precoce de escolha do candidato  foi uma das principais causas da vitória do PSF.
 
As primárias em Portugal  surgem neste momento em função de uma resposta que temos de elaborar para enfrentar um problema que também se revela na Europa: A abstenção, o crescimento dos votos nulos e brancos  e o puro voto de protesto.

Este último fenómeno não surgiu ainda entre nós, pois não há partidos meramente anti-sistema com votação expressiva. Não há na proposta de primárias no PS nenhuma desconsideração do voto noutros partidos ou mesmo no não voto.  Pelo contrário, apelamos a todos para que contribuam de forma decisiva na opção que o PS tem de fazer com vista a 2015. Assim promovemos uma efetiva aproximação com todas as forças progressistas portuguesas, partidárias ou não. Aproximação essa baseada nos princípios republicanos de cidadania e participação esclarecida.

Defendo desde 1990 a opção pelas primárias no PS e, idealmente, também noutros partidos.  Como tenho dito, o PS tem estado na vanguarda de soluções de participação democrática no sistema político português que, depois, outros adoptam.  Foi assim com as diretas para a eleição do secretário-geral, que também defendi, desde a década de 1990, quando ainda poucos o faziam, até à paridade nas listas, que praticámos, com sucesso, na vitória de 25 de Maio deste ano.
 
Portugal ficará a dever a António José Seguro a realização desta segunda onda democrática do 25 de Abril.
 
Pelas minhas particulares responsabilidades neste esforço de modernização da democracia, tanto no sistema partidário como no sistema político em geral, sinto-me obrigado a insistir num ponto crucial: as primárias não são hoje em Portugal uma solução aleatória para a baixa participação política. As primárias são a resposta mais clara e mais democrática para o desejo de participação dos portuguese negado pelo sistema partidário atual.  Não perceber isto não é apenas ignorar a história deste debate, é ser incapaz de perceber o futuro.  Seguro compreendeu o futuro.
 
Álvaro Beleza, secretário nacional do PS, apoiante de António José Seguro. Escreve de acordo com o novo acordo ortográfico

Leia a opinião de João Tiago Silveira, também defensor de eleições directas, mas mais tarde, e apoiante da candidatura de António Costa