16 mar, 2014 • Daniel Rosário, enviado da Renascença à Crimeia
Um milhão e quinhentos cidadãos com capacidade eleitoral são este domingo chamados às urnas na Crimeia, para decidir se esta continua a ser uma região autónoma da Ucrânia ou se passa a integrar a federação russa.
Decidido na sequência da queda do presidente ucraniano no final de Fevereiro, a realização do referendo esteve inicialmente agendada para 25 de Maio e foi sucessivamente antecipada para 30 de Março e, por fim, para o dia 16.
Convocado pelo autoproclamado governo pró-russo da região, que não reconhece as novas autoridades de Kiev, a sua mera concretização é uma vitória do presidente da Rússia, Vladimir Putin, que ignorou as pressões internacionais e a ameaça de sanções.
O resultado do voto não vai ser uma surpresa e deve abrir caminho à integração da Crimeia na Rússia.
Apenas a comunidade tártara, que representa cerca de 15% da população, decidiu assumir uma oposição frontal a todo o processo, e, por isso, acompanha com receio o desenrolar dos acontecimentos, como explica Abduraman Egiz, um dos seus porta-vozes. “Hoje sentimo-nos sós, porque os tártaros da Crimeia tornaram-se vítimas desta crise internacional, porque somos o único grupo étnico pró-europeu e pró-ucraniano.”
“Temos medos destes desenvolvimentos com tropas nas ruas. Esperamos e acreditamos que a comunidade internacional encontrará uma resolução para esta crise. Não reconhecemos este referendo e vamos boicotá-lo”, garantiu o porta-voz.
As assembleias de voto abriram este domingo às 8h00 - 6h00 portuguesas - para a realização do referendo na Crimeia. Mais de 1.200 assembleias de voto vão estar abertas em toda a região até às 20h00 (18h00 em Lisboa).
Quem é a população da Crimeia?
A república autónoma da Crimeia, junto ao Mar Negro, é sede de um porto naval russo de extrema importância para Moscovo e é a única região da Ucrânia em que a maioria da população é de etnia russa.
A península tem sido disputada ao longo dos séculos. Foi invadida pelos nazis, na II Guerra Mundial, e, depois, integrou o regime soviético. Contudo, em 1954, foi transferida por Nikita Kruschev para a Ucrânia.
A população nativa não é ucraniana nem russa: os tártaros são, actualmente, minoritários na Crimeia, e foram expulsos em massa pelos sucessivos governos russos, em particular, pelo regime soviético, por suspeita de simpatias e colaboração com os Nazis.
Actualmente quase 60% da população é de etnia russa, 24% ucraniana e cerca de 12% tártara. Os tártaros são tradicionalmente muçulmanos.
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