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Quem é que escolhe os nomes das operações policiais?

31 jul, 2012 • Cristina Nascimento

"Guns’n’Roses", "Paella", "Irmãos Metralha" ou "Questor". Títulos de filmes? De livros? Não. Trata-se de nomes de código de operações policiais. A Renascença foi saber como são definidas essas designações.

Quem é que escolhe os nomes das operações policiais?

Corria o ano de 2007. A Polícia Judiciária(PJ) anuncia a detenção, na Figueira da Foz, de duas mulheres suspeitas de tráfico de droga. O "modus operandi" passava por esconder o material estupefaciente em caixas de plástico, que eram posteriormente enterradas na areia. Nome da operação: "Tupperware".

As forças de segurança portuguesas já nos habituaram a alguma criatividade na hora de escolher o nome de código para as suas operações, mas, ao contrário do que se poderia pensar, em nenhuma das forças policiais - Polícia Judiciária, PSP e GNR - existe um departamento criativo especificamente incumbido dessa tarefa.

"A atribuição de nomes às operações é uma decisão dos operacionais da Polícia Judiciária", explica o director-adjunto da PJ, Pedro Carmo. "Esses nomes são atribuídos a operações que envolvem um elevado número de diligências ou de actos a praticar e são escolhidos por uma questão de facilidade de comunicação entre os muitos elementos envolvidos."

Pedro Carmo aponta, ainda, outra razão que leva à escolha destas designações: "A atribuição de um nome, que passa a ser nome de código de uma determinada operação, permite que se fale dessa operação sem ser necessário revelar pormenores que a pudessem pôr em perigo".

Mas como são escolhidos os nomes?
Na Polícia Judiciária, os nomes de código das operações estão sempre relacionados com o cerne da investigação, embora nem sempre as razões sejam óbvias. Por exemplo, a "Operação Carta Fora do Baralho", de Maio de 2011, relacionava-se com desvio de correspondência e não com qualquer tipo de jogo. Já a "Operação "Guns’n’Roses", de Outubro de 2011, não tinha nada de musical, relacionando-se com apreensão de armas.

Mas há mais. Por exemplo, a "Operação Cruz Verde", de Junho de 2010, nada tem que ver com o Sporting nem com temas ambientais, mas sim com furtos a farmácias. Já a "Operação Irmãos Metralha" diz respeito a um caso de 2005 que envolvia quatro suspeitos de extorsão e outros crimes. Os quatro indivíduos eram todos familiares.

Na PSP e na GNR, são mais conhecidas as operações que se repetem ano após ano. Por exemplo, a "Operação Natal e Ano Novo", quando a GNR intensifica a fiscalização nas estradas portuguesas, ou a "Operação Férias Seguras", quando a PSP vigia as casas de quem se ausenta da residência habitual para um período de descanso.

Estas são designações óbvias, embora, quer na PSP quer na GNR, haja operações com designações mais fora do comum. O porta-voz da Direcção Nacional da PSP, Paulo Flor, aponta alguns exemplos: a "Operação Azul Vivo" tratou-se de uma investigação de tráfico de armas e droga. O nome denota que a PSP (azul) está atenta (viva) a estas realidades associadas ao tráfico em geral. Já a "Operação Pontas Soltas" foi uma investigação decorrente de uma outra, em que alguns alvos tinham ficado de fora.

Nomes relacionados com objecto de fiscalização
Questionado porque é que algumas operações recebem um nome especial e outras não, Paulo Flor explica que isso não está propriamente relacionado com o grau de perigosidade. "São atribuídos caso a caso, processo a processo", garante.

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) também atribui nomes de código às suas operações de fiscalização, como foi o caso das "Operação Paella". O objecto era uma rede que comercializava, ilegalmente, peixe e marisco congelados.

Nesta questão dos nomes das operações policiais não deixa de haver também lugar para escolhas eruditas. O major José Dias, director de Operações do Comando Geral, refere o exemplo da "Operação Questor". "Questor?", perguntará o comum dos mortais. Não é, de facto, do senso comum que "questor" era quem cobrava impostos na Roma Antiga. Foi a escolha - menos óbvia, mas ainda assim adequada - para uma operação de combate à evasão fiscal.