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Estética

A moda das unhas de gel é uma forma de fugir à crise

20 mar, 2012 • Pedro Rios

As unhas de gel estão na moda. Usam-se e há também elevada procura de cursos e acções de formação na área. Surge, assim, o bom e o mau. Os profissionais do sector queixam-se de falta de fiscalização e defendem uma malha legal mais apertada.

A moda das unhas de gel é uma forma de fugir à crise

As unhas de gel estão na moda. As mulheres procuram-nas e também não falta quem as queira fazer, o que faz também aumentar a procura de cursos e acções de formação na área. Os próprios representantes do sector queixam-se de falta de fiscalização e defendem uma malha legal mais apertada.

Goretti Sá quer mudar de vida. Perdeu o emprego de secretária há quatro anos. Ei- -la, agora, com 53, entretida a pintar unhas numa das mesas das instalações da Magic Nails, uma escola de formação na área, no Porto.

Goretti, que há alguns anos fez um curso de estética, actualiza conhecimentos: o que está na moda, hoje, são as unhas de gel. São unhas falsas, colocadas no lugar da unha original, produzidas a partir de um gel que é solidificado.

Nasceram nos Estados Unidos, onde rapidamente se tornaram moda. Chegaram a Portugal há década e meia, estima Lurdes Sousa, directora-geral da Associação Portuguesa de Cabeleireiros e Estética de Braga. “Custavam 20 contos. Eu própria fiz bastantes a 70 euros. E, agora, cobram a 15, 20. Banalizaram-se”, conta.

Há para todos os gostos: as “espanholas” (um triângulo da unha original e um triângulo de gel), as “francesas” (desenham um sorriso) e as “italianas” (dois triângulos de gel e um triângulo da unha original); com purpurinas, brilhantes, cristais, lantejoulas, pinturas (e aqui falamos em nail art); de todas as cores possíveis.

Goretti quer levar este serviço ao domicílio, tal como a francesa Vanessa dos Santos, 24 anos, colega de curso. Veio a Portugal visitar a família e aproveitou para tirar um curso na Magic Nails. “É o dobro ou o triplo mais caro” em Biarritz, diz. Ou Joana Caldeira, 20 anos, de Vila Nova de Gaia, para quem a moda das unhas de gel é uma oportunidade para sair do desemprego.

Associação quer mais fiscalização
Mariana Ultra, da Magic Nails, confirma: a crise e o desemprego estimulam a procura destes cursos, que, na versão especializada em unhas de gel, podem ficar por 200 euros. “Há um grande boom”, reforça, na procura dos cursos e do serviço, que consegue ser mais económico do que o verniz.

O tradicional verniz “estala” rapidamente, o que obriga as mulheres a pintar as unhas mais amiúde do que se optarem pelas unhas de gel, garante. Na Magic Nails, por cinco euros, é possível colocar umas “unhas” novas (podem durar um mês).

Mariana Ultra supervisiona tudo o que as alunas fazem durante as aulas – preparam unhas em modelos humanos, ou seja, clientes. “Sou muito exigente”, garante a funcionária da Magic Nails, que sabe que unhas de gel mal aplicadas podem gerar vários problemas de saúde.

A unha original “tem que ser lixada”, o que retira “a camada protectora”, explica Lurdes Sousa. “Se não for tirada na medida certa”, o organismo fica exposto a infecções.
Uma formação com poucas dezenas de horas basta para começar a trabalhar, o que preocupa Lucília Oliveira, técnica da Associação dos Cabeleireiros de Portugal para a área da Estética. “É o facilitismo”, critica.

Em tão poucas horas, não é possível ter um “conhecimento básico do corpo humano”, garante. Mais: “Não há quem avalie a formação”. Resultado: muitas pessoas que fazem unhas de gel “não usam luvas, nem esterilizam [os produtos]”.

A Associação dos Cabeleireiros de Portugal vai apresentar propostas ao Governo “para que a formação possa ter uma fiscalização mais apertada, porque as pessoas fazem o que querem. Uma pessoa que trabalha num talho pode tirar um curso de estética”.

A directora-geral da Associação Portuguesa de Cabeleireiros e Estética de Braga estima que “metade dos profissionais a exercer” não estejam habilitados a fazê-lo. “Sem formação as pessoas cometem muitos erros. Já foram parar ao hospital pessoas com unhas totalmente destruídas”, alerta.