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Mais de 100 alunos deixaram o Politécnico da Guarda por falta de dinheiro

07 mar, 2012 • Liliana Carona

“Não há dinheiro, não vamos poder comer”, afirma um estudante à Renascença. Número de desistências pode aumentar com os resultados da segunda fase de candidatura das bolsas.

Mais de 100 alunos deixaram o Politécnico da Guarda por falta de dinheiro
Por causa das dificuldades económicas, muitos alunos do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) estão a deixar de estudar. Desde o início do ano lectivo, 150 alunos anularam a matrícula. Outros deixaram de ir à cantina, porque não têm dinheiro para a alimentação.

“Fica-me mais barato comer em casa do que na cantina. Acredito que muita gente coma comidas rápidas, que não é tão benéfico para a saúde, mas é mais barato, e [temos de] cortar em certas refeições, como lanches. Não há dinheiro, não vamos poder comer, não é? Poupar ao máximo e consumir o menos possível”, relata à Renascença Marco Silva, estudante do segundo ano de Marketing do IPG.

As dificuldades são tantas em casa que Marco Silva teme que lhe aconteça o mesmo que aconteceu à sua namorada: “Teve de deixar de estudar, porque os pais estão a passar algumas dificuldades”.

“Os meus pais estão a fazer alguns esforços e não posso estar sempre a depender deles. Também têm as contas deles para pagar e é complicado. Com as portagens nas ex-SCUT, com o aumento das propinas e com os atrasos na entrega das bolsas, está a ser muito complicado suster estas situações todas”, descreve.

Natural de Póvoa de Lanhoso (Braga), Marco Silva foi estudar para a Guarda e nunca pensou que viesse a ter de cortar em tantas despesas, nomeadamente na alimentação.

O provedor do estudante do IPG, Jorge Mendes, confirma o decréscimo de lucro nos bares do Instituto. “No caso do bar da Tecnologia, a redução é na ordem dos 25%. É muito significativo. O que levanta outro problema, porque é a única fonte de receita dos serviços de acção social. São os bares e as residências e nas residências há também muitos casos de alunos que têm um, dois, três meses por pagar”, indica.

Cerca de 150 alunos já anularam a matrícula e Jorge Mendes prevê que mais abandonem a instituição.

“Há uma redução substancial do número de bolseiros comparativamente ao ano lectivo anterior, sendo que no ano passado tínhamos 950 alunos bolseiros e este ano, segundo os dados mais recentes que temos, são 600 alunos – uma redução de 350 estudantes. Esta redução significa que são muitos alunos que tinham a bolsa mínima – que neste momento está nos 90 euros – e que, não tendo direito a bolsa, parte substancial deles vai certamente anular a inscrição ou, pelo menos, a matrícula para este ano”, explica.

A Renascença tentou falar com os alunos que anularam a matrícula, mas não encontrou nenhum – já regressaram às suas terras, justificaram os que ficaram.