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Portugal vai receber mais refugiados que o previsto. Vitorino pede "pedagogia"

04 set, 2015 • José Pedro Frazão

Comentadores do "Fora da Caixa" sublinham a importância das câmaras municipais no processo de acolhimento de refugiados. António Vitorino e Pedro Santana Lopes admitem que o contingente para Portugal estará muito acima dos 1.500 refugiados.

Portugal vai receber mais refugiados que o previsto. Vitorino pede "pedagogia"
Os comentadores do programa "Fora da Caixa" sublinham a importância das câmaras municipais no processo de acolhimento de refugiados. António Vitorino e Pedro Santana Lopes admitem que o contingente que chegará a Portugal está muito acima dos 1.500 refugiados.

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa antecipa o acolhimento um número de refugiados em Portugal num número "consideravelmente" mais elevado do que está previsto. A possibilidade foi avançada no programa "Fora da Caixa", da Renascença, que vai para o ar todas as sextas-feiras na Edição da Noite.

O Governo já admitiu que o país poderá receber um contingente mais alargado que os 1.500 refugiados definidos na distribuição inicial. Bruxelas prepara um aumento do número de migrantes a distribuir pelos 28, que pode chegar aos 160 mil refugiados, onde se inclui a quota já acordada de 40 mil pessoas.

No habitual debate de temas europeus da Renascença, António Vitorino disse não conhecer os números reais, mas admitiu que se mantenha a repartição segundo a mesma quota, ou seja quatro vezes mais que o previsto. Segundo estes cálculos, Portugal receberia 6 mil refugiados.

No cargo de provedor da Misericórdia de Lisboa, Santana Lopes diz ter mantido contactos com o Governo e outras instituições para definir condições para o acolhimento dos refugiados a três níveis. "Estamos a trabalhar no acolhimento temporário, no de média duração e para os que fiquem e que se integrem na sociedade portuguesa e não queiram regressar."
 
"Há o chamado acolhimento de emergência. Depois, há a preparação de uma vida mais estabilizada, que inclui apoio na educação, na alimentação, apoio na habitação, na saúde, integração social, interação comunitária, apoio psicológico. Há vários níveis de intervenção que neste momento as organizações têm que preparar", revela Santana Lopes, que considera ainda "muito importante" que haja uma distribuição equilibrada de refugiados do ponto de vista geográfico.

Para o antigo líder, do PSD esta crise pode transformar-se numa oportunidade para Portugal.  "O país precisa disso como de pão para a boca. Portugal precisa de mais população, mais crianças, mais famílias em muitas partes do nosso território ", insiste Santana Lopes, sublinhando que o nosso país tem "muitas condições para uma rápida integração" destas pessoas.

O papel das autarquias
As câmaras municipais fazem parte de uma rede que está a emergir na disponibilização de condições para receber os refugiados que vêm para Portugal. Para os comentadores do Fora da Caixa, as autarquias são essenciais no processo.

"Houve a iniciativa do presidente da Câmara Municipal de Lisboa e outras câmaras também se disponibilizaram. As câmaras não fazem parte dos protocolos previstos nesta matéria, nomeadamente em Lisboa. Mas são bem vindas, são essenciais, indispensáveis, para que a intervenção se possa processar como deve ser", considera o antigo primeiro-ministro Santana Lopes.

Já o antigo comissário europeu, que tutelou a pasta da imigração no início do século em Bruxelas, pede diálogo com as populações locais no momento da distribuição dos refugiados pelo país. "Percebo muito bem os ouvintes que dizem que 'muitos dos nossos jovens estão a sair do país porque não encontram cá emprego e agora vêm para cá os sírios'."
 
"Vai ser necessário ter uma pedagogia muito grande para explicar que as duas coisas não geram incompatibilidade. É possível conciliar a manutenção dos portugueses, o regresso dos portugueses e o acolhimento dos refugiados. São comprimentos de onda distintos. Isso vai exigir uma grande pedagogia e o envolvimento das autarquias locais."

"O primeiro nível de envolvimento é com o local onde vão ficar estabelecidas, a viver, onde vão ter que se relacionar com as comunidades locais", assinala ainda António Vitorino.