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"Exames acabam por legitimar abandono de certos alunos"

15 jun, 2015

Actual sistema desculpabiliza escola e professores, defendeu Paulo Chitas, autor do livro “A Escola”, num debate promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O livro "A Escola", do jornalista Paulo Chitas, serviu de mote para um debate na Feira do Livro de Lisboa, esta segunda-feira, em torno da escola pública, dos resultados alcançados nos últimos anos e sobretudo sobre a importância dos exames nacionais.

O livro, um dos "retratos" da Fundação Francisco Manuel dos Santos, conta a história de uma escola em Estremoz que conseguiu através de um projecto inovador – a criação de uma "Turma Mais" – combater o insucesso escolar. É uma história de persistência de uma professora que, apesar dos maus resultados, não baixou os braços.

Paulo Chitas revelou que este trabalho serviu também para fazer uma reflexão sobre o sistema de avaliação em Portugal e principalmente sobre os exames nacionais, que, diz, "servem para legitimar o abandono de certos alunos".

A provocação estava lançada. Sentado ao seu lado, David Justino, presidente do Conselho Nacional de Educação e antigo ministro da Educação do governo de Durão Barroso, defendeu os exames.

Justino, responsável pela introdução dos exames no 9.º ano, diz que são um complemento à avaliação feita durante o ano, "uma espécie de termómetro para avaliar a forma como as aprendizagens estão a ser conseguidas ou não".

O ex-governante reconheceu, no entanto, que há perigos porque "a escola está a esquecer a avaliação formativa e a fazer exames sucessivos". "São tantos testes ao longo do ano que os alunos não aprendem", reconhece.

Para contrariar a ideia que os exames servem para afastar os alunos da escola, David Justino revela que os "dados que o Conselho Nacional de Educação está a trabalhar mostram que a percentagem de alunos do básico que chumba por causa da nota do exame não ultrapassa 2%."

David Justino defende, por isso, alterações na avaliação ao longo do ano. "Muitas avaliações que se fazem ao longo do ano na escola são pouco transparentes e não se percebe como é que são feitas", argumenta.

Voltando ao livro de Paulo Chitas, o presidente do Conselho Nacional de Educação deu o exemplo da Escola Secundária Rainha Santa Isabel, em Estremoz.

A capacidade de autocrítica dos professores, a capacidade de romper com as regras definidas e de perceber que alunos diferentes precisam de respostas diferentes deram bom resultado no combate ao insucesso escolar, disse David Justino.

Ao longo desta semana, a Renascença vai transmitir, todos os dias depois das 19h00, o melhor dos debates que decorreram na Feira do Livro de Lisboa, no espaço da Fundação Francisco Manuel dos Santos.