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Pastel de Chaves conquista UE e fica protegido contra imitações

26 mai, 2015 • Olímpia Mairos

Não conhece? Tem a forma de meia-lua, é constituído por massa finamente folhada, recheada com um preparado à base de carne de vitela picada.

Pastel de Chaves conquista UE e fica protegido contra imitações
A Comissão Europeia reconheceu esta terça-feira o pastel de Chaves como produto com indicação geográfica protegida. Termina assim um longo e burocrático processo que, no concelho, se acredita vai trazer mais-valias.

A qualificação vai permitir aos produtores verem o seu pastel valorizado, reconhecido e protegido contra fraudes e imitações e, aos consumidores. Ficam proibidas todas e quaisquer práticas que utilizem ou façam apelo à denominação registada.

Dadas estas garantias, o presidente da Câmara de Chaves, António Cabeleira reconhece que “estão reunidas as condições para que possam surgir mais unidades de produção” e, ao mesmo tempo, “surja um maior investimento numa cadeia de distribuição”.

O autarca realça a importância de “agora só o pastel produzido em Chaves poder ser vendido como Pastel de Chaves, o que é bom, porque assim se consegue fazer o controlo de qualidade”, fazendo votos de que a cidade saiba “promover e vender a marca e o produto”.

“O potencial de exportação é também muito grande, porque é um produto que se pode congelar e fazer o acabamento final em qualquer parte do mundo”, frisa.

A produção diária ascende, segundo dados da Câmara Municipal de Chaves, a mais de 25.000 unidades, distribuídas por cerca de 30 unidades de produção, o que equivale a oito milhões de pastéis por ano, resultando em cinco milhões de euros na economia local.

Protecção sempre necessária
Carlos Areias, um dos maiores produtores deste pastel, encontrava-se na sua pastelaria “Momentos Carbela” quando soube da notícia pela Renascença.

“É um dia muito importante para nós”, diz o produtor, referindo que “o processo foi bastante custoso”, mas agora, ao “impor-se”, “representa uma mais-valia” e “irá ser bem visto por toda a gente”.

Contudo, não deixa de referir que a “protecção do pastel terá que continuar”, afirmando que pelo país fora “estão a tratar muito mal o pastel. Qualquer fornecedor, qualquer produtor, na zona do Porto e Lisboa, continua a colocar o nome ‘Pastel de Chaves’”. Cabe agora às “autoridades e a quem de direito por travão nesta situação”, que “prejudica imensamente” os produtores flavienses.

O produtor, que já exporta para Inglaterra e outros países, acredita que “o reconhecimento do produto por parte da Comissão Europeia vai significar sobretudo um maior interesse no mercado estrangeiro”.

Um pastel com memória
A história do pastel remonta a 1862, quando uma vendedora percorria a cidade com uma cesta onde levava uns pastéis de forma estranha e cuja quantidade não era suficiente para saciar os flavienses. Com tal escassez, e para satisfação da gula transmontana, a fundadora da Casa do Antigo Pasteleiro terá oferecido uma libra pela receita de tão gostosa iguaria.

A medida vingou e perdurou na memória e no paladar. É uma especialidade tradicional, constituída por uma espécie de folhado finíssimo de carne de vitela picada no interior, com a forma de meia-lua, entre 12 e 14 centímetros, e com o sabor particular dos ingredientes da própria região.

Com um peso que pode oscilar entre os 60 e os 90 gramas, a massa do pastel deve apresentar, ao corte vertical, "um conjunto de lâminas muito finas, o que lhe confere um aspecto firmemente folhado".

Os pastéis, hoje com Indicação Geográfica Protegida (I.G.P.), conquistaram um lugar de destaque na gastronomia nacional - uma aposta que valeu o epíteto de "melhores pastéis folhados de Portugal".