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“A melhor defesa da costa é uma praia”

16 mar, 2015 • Teresa Almeida

Grupo de trabalho criado pelo Governo conclui que dez milhões por ano para tratar da orla costeira é pouco. É preciso o dobro ou mais. Fustigada por ventos fortes e agitação marítima intensa, a costa precisa, de imediato, de reposição de areias nas praias para que não desapareçam.

“A melhor defesa da costa é uma praia”

Portugal vai ter de investir o dobro do que gasta para proteger a costa portuguesa. Entre 20 milhões e 30 milhões de euros anuais é a verba necessária para garantir a sustentabilidade da costa, de acordo com as conclusões do estudo do grupo de trabalho criado pelo Governo para apresentar soluções para o problema.

O geofísico Filipe Duarte Santos, coordenador do estudo, que vai ser apresentado esta segunda-feira, garante, em declarações à Renascença, que os actuais dez milhões anuais são insuficientes para as intervenções necessárias à estabilização da orla costeira.

"Vai ser preciso estudar muito e ponderar que soluções são as mais adequadas, mas temos a certeza de que será preciso gastar bem mais do dobro daquilo que se gasta nesta altura. Estarei a falar de valores entre os 20 e os 30 milhões de euros anuais", afirma o especialista.

Norte pior
Com uma costa problemática, sobretudo entre a foz do rio Minho e a Nazaré, Portugal terá de actuar a muito curto prazo.

A primeira medida a tomar no esforço de defesa da orla costeira será a reposição de areias nas praias, evitando a erosão. "A melhor defesa da costa é uma praia", sustenta Filipe Duarte Santos, sublinhando a necessidade de serem identificadas "fontes de sedimentos e de areia, especialmente no fundo mar e perto da costa".

A situação é particularmente grave a norte, "devido a obras portuárias", destacando-se os casos da foz "do Mondego e do Vouga", onde a transposição e areias é fundamental "para que se possa restabelecer o equilíbrio sedimentar”.

Ainda assim, teme-se que daqui por 80 anos algumas zonas possam vir a desaparecer ou a terem de ser redefinidas. O litoral de Aveiro vai ser muito afectado, aponta o investigador: "Diria que é, sobretudo ,a célula que vai desde a foz do Douro e a Nazaré que vai ser muito afectada, por ser particularmente vulnerável à subida do nível médio do mar e, em especial, a Ria de Aveiro, em localidades como Cortegaça e a Vagueira".

Com uma agitação marítima intensa, ventos fortes e com a subida do nível médio da água do mar, que se prevê de um metro até final do seculo, os problemas vão aumentar.

Entre as recomendações do grupo é a de que se faça uma monitorização detalhada e sistemática de todas as situações na costa portuguesa. Esta monitorização da costa é, hoje em dia, pontual e, assim, "dificilmente se pode pôr no terreno uma política de protecção".
 
"Não tem havido vontade política para assegurar uma monitorização adequada e sistemática da nossa costa", reforça Filipe Duarte Santos.

Outra conclusão a que chegou este grupo é a de que a coordenação entre os ministérios que virão a ser envolvidos tem de ser mais eficiente.

Reportagem multimédia "O meu quintal é o mar"