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Pereira Cristóvão, o homem do "caso Cardinal"

03 mar, 2015 • Raul Paula Santos e Celso Paiva Sol

Enquanto vice-presidente do Sporting, foi o protagonista de um caso polémico envolvendo o árbitro José Cardinal. Pereira Cristóvão voltou esta segunda-feira às notícias: foi detido por suspeitas de assalto à mão armada, sequestros e associação criminosa.

Pereira Cristóvão, o homem do "caso Cardinal"

O ex-vice-presidente do Sporting Paulo Pereira Cristóvão foi detido esta terça-feira por suspeita de assaltos à mão armada, sequestros e associação criminosa, apurou a Renascença. Mas este não é o primeiro caso de contornos pouco claros em que surge o nome de Pereira Cristóvão.

Enquanto vice-presidente do Sporting, durante a gestão de Godinho Lopes, foi o protagonista de um caso polémico envolvendo um árbitro de futebol, que lhe valeu ser acusado de sete crimes e ser alvo de uma suspensão desportiva. O julgamento está marcado para 20 de Abril, apurou a Renascença.

O caso "Cardinal" surgiu depois de uma carta anónima dar nota de ter sido efectuado um depósito de dois mil euros feito numa conta do árbitro assistente José Cardinal, antes da partida entre Marítimo e Sporting (quartos-de-final da Taça de Portugal da época 2011/2012).

As autoridades suspeitaram que Pereira Cristóvão, ex-inspector da PJ, concebeu uma "armadilha" a Cardinal, enviando alguém da sua confiança à Madeira para fazer proceder ao depósito na conta do árbitro assistente a partir da região autónoma, em vésperas de um Marítimo-Sporting.

O objectivo do vice-presidente do Sporting passaria por afastar do jogo José Cardinal, um juiz contestado pelos leões.

O Sporting viria a apresentar uma denúncia por suspeita de corrupção a Cardinal.

A 12 de Abril de 2012, a Unidade de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária (PJ) procedia a buscas à casa e à empresa de Paulo Pereira Cristóvão e ainda à sede da Sporting SAD, em Alvalade, em resultado de uma investigação iniciada em Janeiro.

Pereira Cristóvão foi então constituído arguido, a par de mais dois indivíduos, um deles funcionário da sua empresa, que terão ajudado o vice-presidente do Sporting a montar a alegada "armadilha".

O "vice" leonino pediu de imediato a suspensão do mandato, informação então revelada pelo conselho directivo do Sporting, que confirmava terem sido feito buscas em instalações do clube, pelo Ministério Público e Polícia Judiciária.

Godinho confiou
Pereira Cristóvão apressou-se a declarar que a decisão de suspender o mandato de vice-presidente do Sporting não representava qualquer "assunção de culpa" no caso, devendo-se "única e exclusivamente" à defesa dos "superiores interesses do Sporting Clube de Portugal".

De imediato, o então presidente leonino, Godinho Lopes, apressou-se em dizer que acreditava na inocência de Cristóvão.

"Nós, como direcção, depositamos confiança no Paulo e acreditamos que não é culpado", disse Godinho Lopes, numa entrevista à agência Lusa.

Escassos dias depois, a 17 Abril, Paulo Pereira Cristóvão era reintegrado em plenas funções no clube de Alvalade, no final de uma reunião de nove horas de duração, do conselho directivo dos "leões”.

Em Dezembro desse ano de 2012, o Ministério Público decidia avançar com o caso, indiciando o ex-vice-presidente do Sporting de sete crimes: um crime de burla qualificada, outro de branqueamento de capitais, dois de peculato, mais um de devassa por meio informático, um de acesso ilegítimo e, por fim, um de denúncia caluniosa agravada relativo ao caso "Cardinal”.

O julgamento está marcado para 20 de Abril.

Consequências desportivas
No plano desportivo, Pereira Cristóvão viria a ser suspenso pelo Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) em Outubro de 2014. O então ex-vice-presidente do Sporting (Godinho Lopes já tinha sido substituído por Bruno de Carvalho) ficou suspenso de toda a actividade desportiva por 15 meses e viu ainda ser-lhe aplicada uma multa de três mil euros, acusado de ter tentado chantagear o árbitro-assistente José Cardinal.

Na reacção, Pereira Cristóvão considerou que a secção não-profissional do CD da FPF tinha cometido um "erro básico e primário de Direito" ao aplicar-lhe um castigo "por ser colaborador da SAD", alegando nunca ter sido "agente desportivo" ou ter integrado "qualquer órgão da SAD".

"O CD da FPF não tem qualquer poder de supervisão, competência ou sequer idoneidade ou conhecimento para o julgar ou processar do que quer que seja", atirou.