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O regresso da "Operação Monte Branco"

24 jul, 2014

Em plena crise no Espírito Santo, Ricardo Salgado é de novo confrontado com a operação “Monte Branco”. Ouvido em 2012, Salgado garantia a inocência: "nunca fugi aos impostos, nem sou suspeito disso ou de qualquer outra coisa".

O regresso da "Operação Monte Branco"
O processo “Monte Branco” está a ser investigado desde Junho de 2011. O esquema tinha por base uma rede suíça que proporcionava a evasão fiscal e o branqueamento de capitais portugueses, numa fraude que se calcula atingir mil milhões de euros.

A investigação, liderada pela Inspecção Tributária de Braga e do Porto, conduziu até à identificação de três sócios de uma empresa suíça que oficialmente geriam fortunas de clientes portugueses, mas que, segundo as notícias vindas a público, agenciavam clientes para bancos na Suíça e actuavam como testas-de-ferro, criando empresas "offshore" nas quais era colocado o capital, para iludir o fisco.

Na sequência deste processo, em Maio de 2011, quatro banqueiros portugueses e suíços foram detidos no âmbito desta operação, suspeitos de terem montado a rede para fugir ao fisco e branquear capitais.

É o caso de Ricardo Arcos, antigo financeiro da UBS em Lisboa, do gestor suíço Michel Canals e dos seus sócios na Akoya Asset Management, Nicolas Figueiredo e José Pinto.

Várias personalidades da vida política, económica e desportiva portuguesa foram ouvidos, citados e envolvidas no processo “Monte Branco”. É considerado um dos maiores casos de fraude fiscal e branqueamento de capitais de sempre em Portugal.

"Nunca fugi aos impostos"
Ricardo Salgado foi ouvido no final de 2012 no DCIAP na qualidade de testemunha na operação "Monte Branco".

Ainda em 2012, Ricardo Salgado teve que explicar ao Banco de Portugal e ao DCIAP o porquê de transferências de 14 milhões de euros do construtor José Guilherme para a Sociedade Savoices, de que Ricardo Salgado era detentor. A Savoices é uma sociedade "offshore" com sede num paraíso fiscal do Panamá.

Como revelou recentemente o "Jornal de Negócios", Salgado justificou as transferências com uma oferta do construtor José Guilherme, como forma de agradecimento pelos conselhos do banqueiro.

Onze dias antes de se ter deslocado ao DCIAP para prestar depoimento, Ricardo Salgado fez três rectificações de IRS, num total de 4,3 milhões de euros. Ao mesmo jornal, explicou que o dinheiro em causa "foi ganho no estrangeiro" durante os 17 anos que trabalhou fora do país, após as nacionalizações de 1975.

"Todo o rendimento ganho em Portugal ficou em Portugal e pagou todos os impostos em Portugal", afirmou o ex-banqueiro.

À data, a PGR disse num despacho que Salgado não era suspeito no caso "Monte Branco", nem havia indícios para lhe imputar prática de ilícito fiscal. Na altura, o ex-presidente executivo do BES garantia também a sua inocência no caso: "nunca fugi aos impostos, nem sou suspeito disso ou de qualquer outra coisa".

Três anos depois, o DCIAP continua a trabalhar na "Operação Monte Branco", que também já deu origem a um inquérito para investigar as privatizações da EDP e da REN.

O BESI foi uma das entidades que montou a operação de entrada em bolsa da EDP Renováveis. Entre os arguidos contam-se também José Maria Ricciardi e Amílcal Morais Pires.

A queda do "dono disto tudo"
Ricardo Salgado foi considerado um dos homens mais poderosos de Portugal. No meio financeiro era conhecido como o "dono disto tudo".

Mas, no fim de Junho, Salgado demitiu-se da presidência executiva do Banco Espírito Santo, pondo um fim à gestão de 22 anos à frente de um dos maiores bancos portugueses.

Actualmente, Ricardo Salgado também já não preside o conselho estratégico do Banco Espírito Santo, mas continua a ser um membro desse órgão.

Antes da crise, foi administrador e presidente do executivo do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, "chairman" no BESI, presidente do conselho de administração da Espírito Santo Financial Group, SA, de Luxemburgo, do conselho da administração da Bespar e da Partran e vice-presidente do Espírito Santo Bank of Florida.

A crise no BES e a saída de Ricardo Salgado provocou uma fractura no banco e na família Espírito Santo, seguida de vários dias negros na bolsa portuguesa.