Investigador da cultura mirandesa "rendilha" pedaços de madeiras

23 jun, 2014 • Olímpia Mairos

Artesão de Sendim faz máscaras ancestrais utilizadas nos rituais transmontanos. Encontram-se expostas ao público, pela primeira vez, no Ecomuseu do Barroso, em Montalegre.

Investigador da cultura mirandesa "rendilha" pedaços de madeiras
De um simples pedaço de madeira colhido em terras do Nordeste de Portugal, as mãos de Carlos Ferreira fazem verdadeiras obras de arte. O artesão de 55 anos, também investigador da cultura mirandesa e escritor, é natural de Sendim, concelho de Miranda do Douro.

Filho de gente que gostava de esculpir ou "rendilhar" um pedaço madeira, Carlos Ferreira começou por volta do ano de 2000 a elaborar máscaras, que agora estão pela primeira vez expostas ao público no Ecomuseu do Barroso, em Montalegre.

A sua ideia é dar uma nova vida às tradicionais máscaras de madeira utilizadas nos rituais transmontanos, por isso procura que cada peça apresente "um cunho diferente" daquilo que é considerado "original".

"São aqueles que trabalham as máscaras a partir da madeira, que lhe definem as suas feições e lhes dão o aspecto mais adequado ao ritual onde a máscara vai ser usada. Cada máscara é diferente da sua antecessora e seu significado poderá não ser alterado", refere Carlos Ferreira.

Em Trás-os-Montes, os múltiplos rituais com máscara, perpetuam-se desde a aurora dos tempos: enraízam na velha sociedade agro-pastoril pré-romana, fazendo percurso que já atravessou três milénios, marcando a cultura local e contendo elementos diferenciadores.

“Quando vamos à madeira, já estamos a ver a máscara na árvore”
A construção de uma máscara poderá levar cerca de 60 horas e o seu preço poderá variar entre os 70 e os 300 euros.

O artista cria diferentes tipos de máscaras, conforme a inspiração e que podem ir das solsticiais às de traços asiáticos ou mesmo às máscaras de feições demoníacas.

Do ponto de vista ambiental, o artista diz ter cuidado em “preservar as espécies de madeira autóctones” e, por esse motivo, garante ter "sempre muito cuidado em fazer a selecção dos pedaços que vão ser trabalhados e transformados". 

É precisamente enquanto observa a madeira que vai dar origem às máscaras que Carlos Ferreira idealiza a obra que depois vai esculpir. "Deixo-me envolver pelo trabalho de construção de máscaras desde a colheita da madeira e muitas vezes entro pela noite dentro acabando por perder a noção do tempo", assegura.

O artesão já esculpiu cerca de 60 máscaras, utilizando para o efeito madeiras nobres da região nordestina: amieiro, zimbro, cerejeira, azinheira, amoreira, cornalheira ou cortiça, que se transformam em trabalhos "únicos e dignos de uma herança ancestral".