Há mais de 20 mil chineses em Portugal. Muitos não pretendem regressar

31 jan, 2014 • João Xará e Rosiane Donato

Muitos vêem o país como uma grande oportunidade de investimento. Só no ano passado, o Governo concedeu 470 vistos “gold”, totalizando um volume de negócios que ascende a 300 milhões de euros.

Há mais de 20 mil chineses em Portugal. Muitos não pretendem regressar
A China comemora esta sexta-feira a entrada no Ano Novo, sob o signo do cavalo. O novo ano é a festa mais importante para os chineses e prolonga-se ao longo de uma semana. Segundo os números do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), há mais de 20 mil chineses a viver em Portugal. Os que por cá ficam não pensam em regressar e há também quem veja Portugal como uma grande oportunidade de investimento.

Zhu Qi é tradutora e formadora de línguas. Trabalha e vive em Portugal há 13 anos, mas mudou o nome para Jéssica por causa da difícil pronúncia. O marido é português e os filhos nasceram em Lisboa.

“As crianças já têm consciência da existência de outras culturas e conhecem essa diversidade. Vivem num mundo onde se encontram duas línguas, duas gastronomias, isso é uma coisa fantástica”, disse.

Se muitos chineses vêm para Portugal com o sonho de abrir o seu próprio negócio, para Zhu Qi, o mais importante é o domínio do português. “Para mim, aprender a língua é a primeira coisa, e é preciso dominar bem, foi isso que abriu muitas janelas e ajudou muitas pessoas a estarem mais integradas na sociedade”, sublinha a tradutora.

O visto dourado e o investimento milionário chinês
Ravine Zhan’ye sempre cresceu com um velho ditado: “Se uma geração é rica, a segunda será pobre e a seguinte mais pobre ainda.” Os avós e os pais viveram a "Grande Fome", entre 1958 e 1961. No ano passado, Ravine comprou um imóvel por mais de meio milhão de euros em Portugal e já submeteu o pedido do visto “gold” ao Governo de Lisboa. 

Este visto dourado permite a entrada directa em Portugal mas, para isso, o cidadão estrangeiro terá investir mais de um milhão de euros e criar 10 postos de trabalho. Só no ano de 2013, Portugal concedeu 470 vistos “gold”, totalizando um volume de negócios que ascende a 300 milhões de euros. Cerca de 90% deste valor foi para sector imobiliário e Ravine é um desses exemplos.

“Quando investimos noutros países pedem-nos para suspender a nossa profissão e levar toda a família por um período de quatro a cinco anos. Nós não queremos afastá-los do país, mas sim ir passo a passo, por isso escolhemos Lisboa”, adiantou a empresária de marketing.

À frente dos russos e dos brasileiros, os chineses lideram a lista de vistos “gold”. Segundo Colm Wilkinson, gerente de uma agência imobiliária de luxo portuguesa, os vistos “gold” fizeram crescer 30% do volume de negócios num mercado que envolve o arrendamento de imóveis, mas também a compra de mansões multimilionárias em Cascais ou no Algarve.

A filosofia do trabalho e o Ano Novo Chinês
Segundo Ravine Zhan’ye, os países ditos desenvolvidos podem abrandar o seu ritmo e preocuparem-se com problemas sociais. Num país em crescimento, como a China, explica que tudo tem de ser rápido.

A investidora de Xangai sublinha que os chineses trabalham muito, mas são recompensados. Assim é o sistema. Ravine faz parte da nova geração impulsionadora da China, produtora de riqueza, mas preocupa-se com a educação dos seus dois filhos.

“Eu e o meu marido estamos sempre a discutir senão estarão a receber tudo na infância porque se assim for, qual será o plano para eles? Porque irão eles trabalhar? Qual é o objectivo deles? Receamos dar-lhes demasiado e acabarmos por arruiná-los”, confessou.

No calendário lunar, os animais representam sempre palavras de sorte. O cavalo traduz-se em algo imediato. Mas o sucesso rápido do território chinês não parece sustentar-se na sorte. Ravine diz que o trabalho na China é uma filosofia de vida.

Regido pelos ciclos lunares, o novo ano chinês arranca esta sexta-feira e a festa prolonga-se por uma semana. No sábado, na praça do Martim Moniz, estão previstas diversas iniciativas públicas como demonstrações da dança de leão, kung fu, gastronomia chinesa e artesanato. O evento, em colaboração com a Câmara de Lisboa, tem início pelas 11h00 e prolonga-se até às 20 horas.