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"O Governo prejudica mais os utentes do que a greve na CP e REFER"

06 nov, 2013 • Cristina Nascimento

Ao longo dos próximos dias, a Renascença vai colocar as mesmas quatro questões aos representantes dos trabalhadores das empresas do sector dos transportes que avançaram para greve. Esta quarta-feira paralisam os trabalhadores da REFER, quinta-feira são os da CP. O sindicato é o mesmo.

"O Governo prejudica mais os utentes do que a greve na CP e REFER"

A circulação de comboios em Portugal vai sofrer complicações na sequência das greves da REFER e da CP, incluídas num protesto de 15 dias do sector dos transportes. O Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, que representa os trabalhadores das duas empresas, argumenta que estas paralisações salvaguardam também a luta pelos direitos dos utentes. Abílio Carvalho, dirigente do sindicato, sublinha ainda que o recurso à greve já funcionou no passado para resolver um diferendo entre funcionários e administração.


O sindicato decidiu avançar para greve. Porquê?
Os trabalhadores da REFER têm sido constantemente confrontados com cortes nos seus salários, um roubo dos direitos. Nós, trabalhadores, fomos confrontados recentemente pelo Governo não só com as medidas do Orçamento do Estado, mas também pelo decreto-lei 133/2013 [documento que prevê cortes no valor pago nas empresas públicas em subsídio de refeição, ajudas de custo, trabalho suplementar e trabalho nocturno]. É por isso que estamos nesta luta.

Que alternativa propõe aos cortes e medidas do Governo?
O que temos defendido é a verdadeira aplicação dos acordos de empresa (AE), aquilo que foi acordado entre trabalhadores e empresa, que seria muito mais favorável quer para a empresa, quer para os trabalhadores. Houve uma abertura de negociação, mas por parte da administração não tem havido essa disponibilidade. Antes do Verão tínhamos o compromisso por parte da empresa de que iria ser apresentado até ao fim do mês de Setembro um estudo em que a própria empresa admitia que era muito mais favorável a aplicação do AE, mas esse estudo nunca foi apresentado. Os trabalhadores querem apenas que seja aplicado aquilo que está acordado entre ambas as partes. Além disso, não querem ver constantemente os seus direitos e os seus salários serem lapidados por medidas que estão a ser impostas ao país a todos os trabalhadores em geral. Há trabalhadores que trabalham por turnos, por escalas, trabalham 24 horas sobre 24 horas, dias feriados, dias de Natal, estão longe da família, trabalham em horários complicados e são confrontados com o roubo daquilo que serviria para compensar este esforço acrescido a favor da empresa.

No passado, alguma greve promovida pelo sindicato levou a administração da empresa ou o Governo a recuar?
Houve. Nós tivemos um protesto, em Agosto de 2012, em que os trabalhadores fizeram uma greve prolongada ao trabalho extraordinário e aos dias de descanso e que surtiu efeito. Sentámo-nos à mesa da administração para negociar e debater os problemas que existem não só para as empresas, mas principalmente para os trabalhadores. Os trabalhadores defendem a empresa, a continuidade da empresa, mas defendem aquilo que é mais importante: a sua vida pessoal, os seus salários e os seus direitos.

A greve não acaba por prejudicar mais os utentes do que o Governo?
Não - quem tem prejudicado mais os utentes é o próprio Governo, não são os trabalhadores das empresas ferroviárias. Os trabalhadores dos transportes é que lutam também pelos direitos dos utentes, por um transporte ferroviário público, ao serviço das populações e não tem sido esse o caminho dessas políticas. Ouvimos falar constantemente de redução de horários, redução de comboios, aumentos dos passes, dos bilhetes, das tarifas, ou seja, há cada vez menos condições quer para os utentes, quer para os trabalhadores. Não há uma política assertiva para o sector ferroviário ao serviço das populações e ao serviço do país.