Emissão Renascença | Ouvir Online

Castanhas "dão dinheiro" e compensam viagem de avião

30 out, 2013 • Olímpia Mairos

Emigrantes portugueses regressam às aldeias transmontanas para a apanha da castanha. “Se não desse, não vínhamos”, garante um emigrante em França.

São cada vez mais os emigrantes portugueses a tirar férias nesta época do ano, para vir à terra apanhar as castanhas.

Em Rio Bom, no concelho de Valpaços, a presença dos emigrantes é facilmente notada pelas matrículas dos carros estacionados nas ruas. Mas há quem tenha optado pelo avião. É o caso de António Carlos. Veio do Rio de Janeiro, Brasil, com a esposa, para apanhar as castanhas da família, tarefa que reparte com a cunhada, também emigrante.

“Eu tiro férias nesta época porque tenho de apanhar as castanhas que eram dos meus sogros. É assim! De dois em dois anos, vimos aqui - um ano vem a minha cunhada, outro ano vem a gente”, refere à Renascença o emigrante.

António Carlos é dentista e a esposa engenheira. Nem um nem outro percebem de agricultura, mas querem manter a herança e a tradição.  Não estão habituados ao frio da serra nem às picadelas dos ouriços, por isso contratam trabalhadores.

O fruto de Outono é rentável. Apesar das despesas, incluindo as passagens de avião, o emigrante não tem dúvidas em afirmar que “compensa vir aqui, com este frio, apanhar a castanha. Além disso, é uma forma de mantermos a propriedade, já que foi uma lembrança de família”.

Alfredo Alves veio de França com a esposa. Vieram para apanhar a “meia-dúzia” de castanhas que têm por Trás-os-Montes. Asseguram que o que gastam nas viagens não traz prejuízo. “Se não desse, não vínhamos”, garante.

Dodelina Pereira também está em Rio Bom para apanhar as castanhas. O trabalho é árduo, à chuva e ao frio, mas compensa. “Temos amor por isto, gostamos do nosso país, vimos visitar e aproveitamos para apanhar as castanhas”.

Em relação à quantidade, Dodelina Pereira é realista e diz que “vai haver um bocadinho delas, mas não se sabe. Nos castanheiros estão bonitas, mas ao caírem é que se vê”.

Menos quantidade, mas boa qualidade
Na área da denominação de origem protegida (DOP) da Padrela espera-se uma “produção menor do que a do ano passado”. “Devido ao Verão seco, as quebras podem chegar aos 30%”, refere à Renascença o técnico da Associação Regional dos Agricultores das Terras de Montenegro, Filipe Pereira, em Carrazedo de Montenegro, concelho de Valpaços.

A Serra da Padrela e as zonas envolventes são um dos principais centros de produção de castanha de Portugal, onde se pode encontrar a maior mancha contínua de castanheiros de toda a Península Ibérica.

A região estima produzir este ano entre oito e 10 mil toneladas, o que representa um volume de negócios “na ordem dos 20 milhões de euros” para as cerca de 1.500 famílias que se dedicam a esta produção, que se “tem vendido muito bem nos últimos anos”.

José Santos estima colher este ano entre cinco a seis mil quilos de castanha. “Não é que haja uma grande, grande quantidade, só que a castanha é muito boa. Não é bichosa, não é rachada. É um ano espectacular para a castanha”, refere o produtor.

O preço da castanha judia, variedade predominante na Padrela, “está excelente, principalmente para o agricultor”. “Estamos a pagar a 2,20 ou 2,30 euros por quilo, tal como vem do souto”, refere Alcídeo Taveira, da Agromontenegro.

De Trás-os-Montes para o mundo
Grande parte da castanha produzida em Trás-os-Montes tem como destino o mercado externo. “Principalmente para Itália, Brasil, França e Espanha”, refere à Renascença Alcídeo Taveira, sócio da Agromontenegro, empresa especializada na embalagem de castanhas com sede em Rio Bom. Destaca que “o fruto de Outono é cada vez mais procurado e tem muito futuro”.

A exportação de castanha é também a grande aposta da AgroAguiar, empresa especializada na transformação e embalagem de castanhas, em Sabroso, no concelho de Vila Pouca de Aguiar. “Estimamos vender entre as três mil e as quatro mil toneladas, o que representa um volume de negócios acima dos cinco milhões de euros”, refere Rodrigo Reis.

A empresa adquire o produto essencialmente em Trás-os-Montes e coloca-o no mercado externo. “O nosso desígnio é levar Trás-os-Montes a todo o mundo”, explica Rodrigo Reis, avançando que estão a exportar para Itália, França, Alemanha, Suíça, Brasil e Estados Unidos da América. “Somos uma empresa assumidamente exportadora, nós exportamos do nosso volume de negócios 75%, o que é muito significativo”, realça o empresário.

Esta empresa vende castanha em fresco, pelada congelada, assada congelada e produtos gourmet de castanha como ‘Marron glacés’, compota de castanha e castanha em calda doce.

A região transmontana concentra a maior parte da produção de castanha do país, possuindo cerca de 30 mil dos 35 mil hectares de área de souto existentes em Portugal.