"Aldeia lar." Um caminho para assegurar o futuro do interior do país?

27 out, 2013 • Rosário Silva

Núcleo de Beja da Rede Europeia Anti-pobreza é “motor” de um projecto, a desenvolver numa aldeia do concelho de Serpa a partir de 2014. O conceito é simples: “passa por dar a um conjunto de aldeias e vilas do nosso interior, uma vocação".

Neste Dia Mundial da Terceira Idade, um olhar para um projecto que está a angariar adeptos um pouco por todo o país. A primeira “aldeia lar” piloto vai nascer em 2014 em Serpa, no Alentejo.

Defensor de um modelo de desenvolvimento que dê resposta aos idosos e aos problemas de despovoamento do interior, o coordenador do Núcleo Distrital de Beja da EAPN Portugal\Rede Europeia Anti- Pobreza João Martins revela à Renascença que uma unidade piloto está a caminho de concretizar-se no Alentejo.

“Posso dizer-lhe que fica no concelho de Serpa, mas ainda é cedo para divulgar o nome da aldeia, pois neste momento decorrem os trâmites legais e que envolvem diversas instituições e outras entidades, para que possamos apresentar o projecto em 2014”, explica.

De acordo com o modelo por si defendido, as aldeias e vilas destinadas a “aldeias lar” são aquelas que têm perdido pessoas, onde há inúmeras casas devolutas, com uma população envelhecida e onde a oferta de emprego é, efectivamente, uma miragem.

Dar uma “vocação” às aldeias e vilas de Portugal
O conceito é simples, na óptica de João Martins e, “passa por dar a um conjunto de aldeias e vilas do nosso interior, uma vocação. No fundo, tudo o que não tem uma vocação, morre”, refere. O objectivo é que se criem as “condições necessárias para poder acolher idosos que não são apenas os nacionais, mas também oriundos da Europa, através, por exemplo, da reabilitação de casas devolutas e pela constituição de serviços de saúde associados que podem, neste caso, ser privados”.

Por outro lado, o projecto tem também como finalidade garantir que um elevado número de idosos residentes no interior não tenha necessidade de sair de sua casa para os lares convencionais, deixando para trás ligações afectivas com familiares ou amigos.

Envelhecimento não pode ser ameaça mas oportunidade
O especialista na área da sociologia, João Martins não tem dúvidas de que este modelo é ainda “uma possível solução para um melhor ordenamento do território e para o dignificar da vida do idoso”.

Inerente às “aldeias lar” está igualmente a “possibilidade de podermos levar idosos, muitos deles do interior, a regressarem às suas terras ou olharmos, também, para o mercado que temos ao nosso lado. Olharmos para o envelhecimento da Europa não como uma ameaça mas como uma grande oportunidade atendendo a factores que caracterizam o nosso país, como o clima, a gastronomia ou a nossa simpatia, afinal activos que devemos saber valorizar”, acrescenta.

Portugal pode voltar a ser a “Califórnia da Europa”
Em Portugal, merece referência a aldeia de São José de Alcalar, no Algarve, que embora construída de raiz, tem uma proximidade no que toca aos restantes aspectos propostos neste modelo de desenvolvimento. O projecto das “aldeias lar” está, entretanto, a suscitar uma enorme curiosidade junto de outras comunidades, um pouco por todo o país.

“Temos sido contactados por inúmeras entidades e fundações que olham para o modelo como muito interesse e como forma de dar respostas sociais, mas também de encontrar mecanismos para gerar e qualificar emprego”, afiança o coordenador do Núcleo Distrital de Beja da EAPN Portugal\Rede Europeia Anti- Pobreza, para acrescentar logo a seguir que “Portugal pode assumir um papel predominante neste domínio, pois temos condições únicas e podemos mesmo voltar a ser a “Califórnia da Europa” no sentido de atrairmos e fixarmos investimento”.

Há esperança para o interior do país?
João Martins, não tem a menor dúvida: “Sim, há esperança e um caminho para o interior do país”. Mas fica também a mensagem em jeito de alerta.

“Tudo isto implica uma união de esforços e maior trabalho de concertação de todas as partes que intervém neste tipo de processo, no sentido de, em conjunto, conseguirmos criar condições para conseguir implementar, rapidamente, no território projectos desta natureza, criando respostas sociais e económicas, efectivas”.

Em 2014, o concelho de Serpa vê nascer uma unidade piloto. Questões relacionadas com o Plano Director Municipal (PDM) e outros instrumentos de ordenamento e regulamentação, actualmente em execução, impedem este responsável de adiantar mais pormenores sobre a primeira “aldeia lar” que o Alentejo vai ver materializada.