"Dá vontade de chorar." Maior incêndio do Verão deixou enorme mancha negra

17 jul, 2013 • Olímpia Mairos

“O fogo levou-me duas mulas, 12 cabritos, cinco cães, o cereal e o olival, todas as alfaias agrícolas e os anexos da casa”, descreve uma agricultora. Várias populações do Nordeste Transmontano ficaram com quase nada após a passagem das chamas. "Esta gente precisa de ser ajudada", apela autarca.

"Dá vontade de chorar." Maior incêndio do Verão deixou enorme mancha negra
Uma semana depois do incêndio que atingiu quatro concelhos de Trás-os-Montes e que já é considerado o maior deste Verão, a Renascença foi ao terreno ver os prejuízos. A realidade mostra-se numa enorme mancha negra, com hectares e hectares de terra queimada e várias culturas destruídas.

No sector agrícola, nada escapou à fúria do fogo, que teve início em Alfândega da Fé e rapidamente se alastrou aos concelhos vizinhos de Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo.

À volta de Carviçais, freguesia de Torre de Moncorvo, está tudo queimado. “O azeite, este ano, pouco vai ser. Está tudo perdido”, afirma Manuel Dinis, que perdeu parte do seu sustento – o olival. 

Outros perderam "amendoal, cereal e hortícolas”, salienta o presidente da junta de freguesia, José Teixeira, que reclama ajuda para quem foi atingido pelo incêndio e ficou sem as suas culturas. O autarca defende “ajudas concretas para a população de fracos recursos”.

Em Minas da Fonte Santa, concelho de Freixo de Espada à Cinta, Isaura Vicente perdeu quase tudo. “O fogo levou-me duas mulas, 12 cabritos, cinco cães, o cereal e o olival, todas as alfaias agrícolas e os anexos da casa”, relata à Renascença.

Em Estevais, no concelho de Mogadouro, os prejuízos também são incalculáveis. “Dá vontade de chorar”, diz Fernando Manuel, que perdeu olival, amendoal, sobreiros, um anexo e todas as colmeias.

“Ainda não tinha retirado o mel. Só em colmeias, o prejuízo ultrapassa os seis mil euros”, acrescenta, dando nota da destruição ambiental da aldeia onde antes existiam “várias espécies autóctones de arbustos e floresta”.

A Quinta das Quebradas foi das aldeias mais atingidas pelas chamas. Henrique Barroco ficou sem alimento para o gado. “Arderam-me dois estábulos, um atrelado carregado de feno e muitas oliveiras”, diz à Renascença. Os prejuízos foram relatados à equipa do Ministério da Agricultura, que visitou a aldeia na terça-feira e que, até ao final da semana, deve revelar os resultados da sua avaliação no terreno.

“Esta gente precisa de ser ajudada. Os prejuízos são enormes no sector agrícola e quem foi afectado é gente necessitada”, salienta o vice-presidente da autarquia de Mogadouro, João Henriques.


"Parece-nos que ardeu área demais para os meios que estiveram no terreno"
O incêndio transmontano terá atingido uma área de 14.500 hectares. Proporções “demasiado grandes”, que alguns atribuem à falta de coordenação no combate.

“Compete ao Ministério da Administração Interna avaliar. A nós, parece-nos que ardeu área demais para o número de operacionais e para os meios que estiveram no terreno”, refere João Henriques, que é também o responsável pela Protecção Civil no concelho de Mogadouro, um dos atingidos pelas chamas.