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Antecessora de Crato considera "um erro dispensar professores"

20 jun, 2013 • Matilde Torres Pereira

Em declarações à Renascença, Isabel Alçada diz que teme um "retrocesso" no percurso do ensino público português.

Antecessora de Crato considera "um erro dispensar professores"
A antiga ministra da Educação Isabel Alçada considera "um erro dispensar professores como se está a propor". "[Quando se diz] vamos emagrecer o número de professores que está a prestar serviço, no caso do sector da Educação isso representa uma diminuição da qualidade daquilo que se está a fazer", defende a antecessora do ministro Nuno Crato.

Para Isabel Alçada, "o nosso país fez um percurso muito bom, com resultados favoráveis". "Temos feito um esforço de décadas para melhorar a Educação, e, neste momento, reduzir o número de professores e aumentar o número de turmas vai criar uma situação de retrocesso", acrescenta.
 
"Pela minha experiência como professora, mais de 24 alunos torna o trabalho muito difícil, com muito mais dificuldade em dar resposta efectiva àqueles que mais precisam."

Numa entrevista concedida à Renascença ainda antes da escalada da greve de docentes que está a abalar a época de exames nas escolas públicas, Isabel Alçada comentou a actual situação do país e deixou críticas ao rumo escolhido pelo Governo de Pedro Passos Coelho.

"Com os funcionários públicos em situações de despedimento, ou de despedimento amigável ou com outras fórmulas, vamos ter uma situação cada vez mais negativa. Não é essa a via", considera. No caso do Ministério da Educação, que conhece "por dentro", receia um regresso ao passado.

Requalificação profissional ou despedimento "encapotado"?
O futuro para os professores do ensino público é ainda incerto e é precisamente o medo de despedimentos e da dispensa de contratados em larga escala que levou a que os sindicatos da Educação marcassem greve às avaliações durante este mês.

O protesto é contra o regime de requalificação profissional e a mobilidade geográfica proposta pelo Governo, bem como o aumento do horário de trabalho de 35 para 40 horas semanais.

A substituição da lei da mobilidade especial pela requalificação profissional dos funcionários públicos é a medida que mais dúvidas suscita, a professores e não só, com os sindicatos a acusarem o Governo de estar a promover despedimento "encapotado".

Esta semana, em entrevista à TVI, o ministro adjunto Miguel Poiares Maduro disse que não há intenção de despedir através da requalificação, mas não deixou uma promessa clara: "O objectivo não é despedir. Em muitas situações, o que vai acontecer é que pessoas que exerciam determinado tipo de funções vão exercer funções diferentes".

Para acrescentar mais uma variável à questão, o próprio ministro Nuno Crato fez as contas e admitiu que possam vir a faltar docentes num futuro próximo. Esta quarta-feira, em entrevista à RTP, revelou que "neste momento temos 600 professores com 'horário zero' e cerca de seis mil professores pediram para se reformar", o que pode complicar o preenchimento de vagas nas escolas.