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Presidente da Bial

“Não sei porque é que as pessoas saem para a rua a fazer barulho”

23 set, 2012

Debate na Renascença reúne o presidente executivo da farmacêutica Bial, Luís Portela, o ex-ministro da Economia Daniel Bessa e o especialista em estratégia, conhecimento e inovação, Francisco Jaime Quesado.

“Não sei porque é que as pessoas saem para a rua a fazer barulho”
O presidente executivo do maior grupo farmacêutico exportador em Portugal ( Bial) diz não compreender as razões que levam as pessoas a sair à rua em manifestações.

“Eu tenho para mim que, neste momento, o país não tem alternativas ao primeiro-ministro que tem – eventualmente, em relação aos restantes membros do Governo, mais cedo ou mais tarde, terão de ser remodelados – mas não sei porque é que as pessoas saem para a rua a fazer barulho. Acho que a solução que nós temos de procurar é uma solução construtiva, de cada um, no seu cantinho, dar o seu melhor e procurar soluções”, defendeu Luís Portela no debate emitido este domingo pela Renascença sobre soluções para a crise.

Luís Portela não é um defensor da taxa social única (TSU), “mas ainda me entusiasma menos a forma primária como o país reagiu ao anúncio da medida”.

No mesmo debate, o economista Daniel Bessa criticou quem tenta convencer os portugueses de que a austeridade acabou – “isso é batota”.

“Há uma coisa que não aceito: é que alguém diga eu sou contra esta [medida, da TSU] sem imediatamente dizer qual é a outra. Porque isso é batota. Tentar convencer 10 milhões de portugueses de que não queremos isto e também não queremos nada e que a austeridade acabou, é batota, porque não acabou”, afirmou.

“O que estava previsto inicialmente era que a descida das contribuições para a Segurança Social por parte das empresas fosse compensada por aumento de IVA. Depois o Governo português ponderou, acho que o IVA já estava demasiado elevado, não teve coragem e acabou por sair com a medida de os trabalhadores pagarem mais e as empresas pagarem menos. Convenhamos que, para os nossos gostos e hábitos, uma coisa destas não foi bem recebida”, concluiu.


Daniel Bessa a favor de um ajustamento rápido sem corte nos salários
O antigo ministro da Economia e presidente da COTEC defende um ajustamento económico mais doloroso, mas também mais rápido, “que foi o que se passou na Irlanda”.

“A Irlanda teve uma actuação em que foram tomadas, de uma só vez, mais medidas e mais duras. O que temos hoje pela frente em Portugal? Temos a continuação da austeridade pelo menos em 2013 e 2014. Eu talvez preferisse uma actuação mais rápida, sendo certo que isso é indispensável, porque tudo isto se faz para Portugal recuperar o crédito e capacidade de decisão”, explica.

Daniel Bessa é, por outro lado, totalmente contra a recuperação da economia à custa de baixos salários.

“Aquilo que tanto admiramos, como esses crescimentos enormes, a taxas elevadíssimas, de países como a China, a Índia, o Brasil, uma boa parte está-se a fazer aí com actividade que sai daqui. Agora, tirar daí a conclusão que temos de ser tão baratos como eles e que nos vamos tornar competitivos pelo preço, seria um desastre, porque gente barata por esse mundo diante é o que mais há”, sustenta.