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Clientes do papel comercial do GES. Banco de Portugal "não sabe vender bancos"

01 set, 2015

Reacção ao fim das negociações com a Anbang. "Iludir de novo os contribuintes, fazendo crer que esta resolução não tinha custos, foi um enorme erro", diz o líder do PS.

Clientes do papel comercial do GES. Banco de Portugal "não sabe vender bancos"
A Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC) classificou esta terça-feira o fim da negociação com a seguradora chinesa Anbang para a venda do Novo Banco como "a primeira medida sensata" do Banco de Portugal desde a resolução do BES.

"Esta é a primeira vez desde a resolução [do Banco Espírito Santo a 03 de agosto de 2014] que o Banco de Portugal [BdP] toma uma medida sensata", disse à Lusa o director da área de Lisboa da AIEPC, Nuno Lopes Pereira, depois de o supervisor ter anunciado esta terça-feira que terminou sem acordo o período de negociação com o potencial comprador do Novo Banco.

Nuno Lopes Pereira afirmou que os valores propostos pela Anbang, apontada como a potencial compradora do Novo Banco, eram de tal forma baixos que seriam um "suicídio" para Portugal, para o banco, para todos os bancos que estão "reféns" do fundo de resolução e para os contribuintes, através da Caixa Geral de Depósitos.

O dirigente da AIEPC disse que os chineses tentaram baixar os valores, tendo em conta os problemas no balanço do banco português.

A associação considera que o BdP "não sabe vender bancos" e espera que, "se a próxima proposta for muito má", o supervisor "siga as boas práticas europeias", nomeadamente as existentes Inglaterra, e "tente pôr o banco a funcionar".

"Talvez neste momento, se tudo correr mal, se volte atrás e se procure pôr o banco saudável e igual às práticas saudáveis europeias", disse.

Costa critica Governo e Banco de Portugal
O secretário-geral do PS afirmou esta terça-feira esperar que a venda do Novo Banco seja a melhor possível, mas criticou Governo e governador do Banco de Portugal por "criarem a ilusão" de ausência de custos para os contribuintes.

A venda do Novo Banco foi um dos temas abordados por António Costa em resposta a perguntas colocadas por internautas, durante uma sessão de “live streaming", a partir da sede nacional do PS, em Lisboa, que durou cerca de uma hora e 40 minutos.

"Neste momento, não quero dizer nada que possa prejudicar as negociações e faço votos para que seja alcançado o melhor resultado, com o menor prejuízo para a economia, para o nosso sistema financeiro e, sobretudo, para os contribuintes", declarou o líder socialista.

Neste ponto, o secretário-geral socialista optou por recomendar que se aguarde pelo fim das negociações e considerou que é do interesse geral "que se alcance o melhor resultado possível de forma a minorar o impacto muito negativo que isto teria no nosso sistema financeiro e sobre os contribuintes".

Depois, no entanto, criticou duramente a actuação do Governo e do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, na gestão do processo de transição entre o Banco Espírito Santo/Grupo Espírito Santo (BES/GES) e a criação do Novo Banco.

"Foi um gravíssimo erro a forma como o Governo e o senhor governador do Banco de Portugal quiseram criar a ilusão de que a resolução sobre o BES seria feita sem custos para os contribuintes. A resolução tinha de ser feita, mas nunca se deveria ter iludido os contribuintes", apontou o secretário-geral do PS.

António Costa foi ainda mais longe e disse que, neste processo, já tinha bastado ter-se alimentado a ilusão junto de investidores, "dando sinais repetidos de confiança numa instituição que, como se viu, estava a menos de um mês de entrar em colapso".

"Iludir de novo os contribuintes, fazendo crer que esta resolução não tinha custos, foi um enorme erro", reiterou o líder socialista.