20 ago, 2015 • Filomena Barros e Ricardo Vieira
O ministro da Economia, Pires de Lima, e o Partido Socialista fazem leituras diferentes do mais recente boletim estatístico do Banco de Portugal e trocam acusações de falta de adesão à realidade.
A economia está mais endividada e a culpa é das administrações públicas e das empresas privadas, segundo dados avançados esta quinta-feira pelo banco central. A dívida pública na óptica de Maastricht, a que conta para Bruxelas, recuou no segundo trimestre deste ano para os 128,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
À Renascença, o ministro da Economia, António Pires de Lima, opta por comentar apenas as boas notícias. E por atacar o principal partido da oposição: "A realidade vai roubando o discurso ao Partido Socialista."
"A leitura que faço é uma leitura óbvia: a economia portuguesa está a caminhar no bom sentido", afirmou o ministro, em directo, na Renascença.
"A dívida pública dá sinais não só de ter estagnado, mas de ter começado a diminuir, um caminho que tem que ser continuado."
Para o centrista, o "dado mais saliente" divulgado pelo Banco de Portugal "é que a economia reforça a sua competitividade. Essa competitividade é expressa em quê? No facto de exportarmos mais do que aquilo que importamos."
"As exportações de bens e serviços pelo terceiro ano consecutivo são superiores àquilo que Portugal importa de bens e serviços, o nosso saldo comercial melhorou, atingiu quase 700 milhões de euros no primeiro semestre, melhorou 150 milhões de euros face a igual período do ano passado”, afirma o ministro do CDS-PP.
O Governo acredita que o PIB pode crescer mais do que os 1,5% inscritos no Orçamento do Estado.
"A economia portuguesa está a crescer mais do que a Zona Euro. Está a convergir para os standards europeus em mais de uma década", diz Pires de Lima. "Esta evolução positiva da nossa economia contraria o discurso do maior partido da oposição, que montou um discurso alicerçado numa evolução económica que não se está a confirmar. A realidade, repito, está a roubar o discurso ao Partido Socialista."
PS acusa: Governo "falhou clamorosamente"
O maior partido da oposição considera que o Governo tenta mascarar um falhanço e está a perder a guerra contra a dívida externa.
João Galamba, deputado socialista que participou na elaboração do cenário macroeconómico que serviu de base ao programa eleitoral, identifica uma "tendência preocupante" nos dados do Banco de Portugal e que é, "provavelmente, o maior problema do país": "a dívida externa, quer a bruta, quer a líquida, quer em valor absoluto, quer em percentagem do PIB."
"Aumentaram todos os indicadores e isto significa que o país está, como um todo, mais endividado em relação ao exterior e que o nosso peso de endividamento aumentou. E esse é o indicador mais preocupante de todos", vinca.
"A dívida externa sempre foi um problema crónico da economia portuguesa e ela aumentou de cerca de 80% para 104,7%, que é o valor actual neste boletim. Tem sempre aumentado e essa é uma enorme vulnerabilidade económica do país e é um problema que este Governo não só não resolveu, como agravou significativamente", acusa Galamba.
O socialista considera que Pires de Lima e os outros membros do Governo atiram "palavras para o ar" e repetem "um discurso, esse sim, sem adesão à realidade".
Galamba desafia o ministro da Economia a explicar "como é que o endividamento externo, que era e é um dos principais problemas do país, aumentou sempre com este Governo e continua a aumentar".
"Um Governo que se apresentou aos portugueses como estando disposto a resolver o problema da dívida, não o resolve, mas agrava-o, tem o descaramento que outros têm um discurso desfasado da realidade. Se há um discurso desfasado da realidade é aquele que disse que ia reduzir a dívida e tem aumentado sempre, quer a dívida externa, quer a dívida pública. Esses são os indicadores mais importantes e nesses todos o Governo falhou clamorosamente", remata o deputado do PS.