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ABC da Grécia

05 jul, 2015 • Carlos Calaveiras

É o Dia D ou do "Tudo ou Nada". Europa "sim" ou "não". O primeiro-ministro Tsipras deu a última palavra aos gregos. Vota-se desde as 5 da manhã (hora portuguesa).

ABC da Grécia
Este é (mais) um dia decisivo para a Grécia. Já não há dinheiro, e os 10 milhões de eleitores gregos têm uma decisão importante para tomar no referendo deste domingo. A resposta parece simples (sim ou não) mas as implicações da decisão são muito complexas.

Numa altura em que as sondagens no país dão "empate técnico", a Renascença resume a crise da Grécia com a ajuda do abecedário.

Acordo
Há vários meses que a União Europeia procura um acordo com a Grécia. A questão é saber se ainda faz sentido ter uma União Europeia baseada em “cooperação e solidariedade”, como pede o francês Jacques Delors. Em grego, a palavra “acordo” significa “sinfonia”. Depois deste referendo, vai ficar a saber-se se esta segunda-feira os “28” ainda conseguem tocar a mesma música.

BCE
O Banco Central Europeu tem vindo, através da linha de assistência de liquidez de emergência (emergency liquidity assistance
ELA, na sigla em inglês), a “aguentar” a Grécia, ou seja, a injectar dinheiro diariamente nos bancos gregos, enquanto não há acordo com os credores internacionais ou as instituições anteriormente conhecidas como troika.

Crise
É caso para dizer: “Estão a ver-se gregos para sair da crise”. Durante anos cometeram muitos erros (despesismo, fuga aos impostos) e a primeira ajuda foi pedida pelo socialista Papandreu em 2010, poucos meses depois de ter tomado posse. A situação económica era mais grave do que a esperada (défice superior a 12%) e a ajuda internacional parecia ser a tábua de salvação. Cinco anos e vários governos depois, a situação está (ainda) pior e o país à beira do abismo. A Grécia está sem dinheiro e os parceiros europeus sem paciência para um Executivo que parece não falar a mesma língua.


Um pensionista em Atenas. Foto:EPA

Dívida
No final de 2014 a dívida da Grécia ascendia aos 317,1 mil milhões de euros (ou 177,1 em percentagem do PIB). Para muitos, estes números são impagáveis mas a Europa insiste. No entanto, Christine Lagarde já admitiu um perdão parcial da dívida. Os números do Instituto de Estatísca da Grécia apontam ainda para um ligeiro agravamento em 2015 (320,4 mil milhões de dívida), mas uma melhoria para 2016 (319.6 mil milhões).

Euro
O euro substituiu o dracma na Grécia. É uma moeda forte, muito mais forte que a antiga moeda grega. Muitos analistas dizem que Atenas não devia ter aderido à moeda europeia e agora há o risco sério de a Grécia ter de sair do euro, mesmo que esse passo não esteja previsto nos tratados. Como viverão os gregos se isso acontecer? É uma das incógnitas que ainda não tem resposta.

FMI
O Fundo Monetário Internacional é uma das “instituições”, ex-troika, com quem a Grécia tem de negociar para ter dinheiro para funcionar e foi precisamente com o FMI que Atenas entrou em incumprimento no final de Junho. Desde 2010 que o país está afogado em dívida que muitos consideram impagável e a receita internacional tem sido: mais austeridade. Ainda recentemente o FMI deixou claro que muito provavelmente o país vai precisar de mais 52 mil milhões de euros nos próximos três anos e exigiu propostas credíveis.

Grexit
Neologismo que junta a palavra “Grécia” e “Exit” e que expressa uma eventual saída do país do euro. Esta saída - do euro e provavelmente da União Europeia - não está propriamente prevista nos tratados, mas o risco de tal acontecer é elevada se o “Não” vencer o referendo deste domingo.

Hora H
Há várias semanas que a comunicação social mundial tem avisado: já tivemos vários Dia D, a reunião decisiva, o encontro fundamental, o prazo limite, o ultimato, mas este domingo é que parece ser o do “tudo ou nada” para a Grécia. “Sim” ou “Não” à Europa como a conhecemos hoje. As urnas abriram às nossas 5 da manhã e encerram às 17h00.

Incumprimento
O passado dia 30 de Junho foi (mais) um dia histórico na Europa, mas não pelas melhores razões. Pela primeira vez na União Europeia, um país entrou em incumprimento. A Grécia não pagou 1,5 mil milhões que devia ao Fundo Monetário Internacional. Atenas ainda pediu um novo plano, mas não houve acordo. A Grécia está sem dinheiro e os bancos estão encerrados até novas ordens.

Juncker
O presidente da Comissão Europeia tem sido um dos principais actores nos últimos meses. Jean-Claude Juncker apelou várias vezes ao “sim” no referendo e alertou para o facto de "a posição negocial [da Grécia] ficar dramaticamente enfraquecida". “Mesmo no caso de um voto no 'sim', vamos ter de enfrentar negociações dificeis".

Kremlin
A Rússia parece ser um (quiçá o único) aliado da Grécia, liderada pelo Syriza, e está a ser vista com desconfiança pela União Europeia. Putin tem feito negócios com Tsipras (nomeadamente a construção de um gasoduto), mas Moscovo não parece estar com força suficiente para “libertar” os gregos da pressão dos credores.

Lefkada
É uma das principais ilhas gregas e uma das que mais turistas recebe ao longo do ano. O turismo tem sido precisamente uma das bóias a que os gregos se têm agarrado para sobreviver. Em 2014 cerca de 22 milhões de turistas visitaram o país, o ano em que o turismo bateu todos os recordes. Curiosamente também Portugal, outro país que esteve sob assistência financeira, tem apostado muito no turismo (e no aumento das exportações). A receita tem dado bons resultados, mas convém não matar a galinha dos ovos de ouro.

Milhões
A Grécia tem cerca de três milhões de pobres (a economia grega encolheu 22% e tem mais um milhão de pobres só desde 2010, quando Atenas pediu o primeiro resgate) e 1,5 milhões de desempregados. É este o resultado mais visível de vários anos de austeridade na Grécia. O povo está cansado, mas também receoso em relação ao futuro.


Manifestação pelo "Sim" em Atenas. Foto:EPA

Naí
Ao contrário do que possa pensar à primeira vista, “Nai”, em grego, é “Sim”. É é por esta opção que suspiram os outros países da União Europeia neste referendo. A União Europeia acredita que com a vitória do “Sim” o Syriza deixa o Governo, há novas eleições, um novo Executivo e que será mais fácil negociar. Assim sendo, o dinheiro europeu aparecerá para ajudar a que os gregos “não fiquem na miséria”, como prometeu o presidente do Parlamento Europeu.

Oxi
A palavra grega “Oxi” quer dizer “Não” em português. O Governo do Syriza, que venceu as eleições em Janeiro prometendo acabar com a austeridade, apela ao não no referendo deste domingo. Se o não vencer a Europa entre em “mares nunca dantes navegados” e os próximos tempos deixam várias interrogações. A Europa fecha a torneira? A Grécia sai do euro? e da Europa? E como sobreviverá?

Portugal
Muitos analistas, incluindo o ex-ministro Teixeira dos Santos, consideram que se o entendimento na Grécia falhar e Atenas tiver de sair do euro, o próximo alvo dos especuladores será Portugal. No entanto, o Governo parece tranquilo. A ministra das Finanças garante “cofres cheios” e “almofada” para fazer face a qualquer instabilidade. Já o primeiro-ministro garantiu que Portugal não foi "apanhado desprevenido”, mas "ninguém pode dizer que está imune".

Quimera
Quimera é uma palavra grega que na versão popular também quer dizer utopia. O Syriza é uma coligação de extrema-esquerda que tem ideias bem diferentes das instituições europeias e até mesmo dos partidos que governaram a Grécia nas últimas décadas. Muitos dizem que essas propostas são utópicas, mas Tsipras e Varoufakis pedem tempo (e dinheiro).

Referendo
A pergunta é grande, complexa e desactualizada, mas é a esta que mlhões de gregos estão a responder este domingo: "Deverá ser aceite o projeto de acordo que foi apresentado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional no Eurogrupo de 25.06.2015 e que consiste em duas partes, que constituem a sua proposta unificada? O primeiro documento intitula-se 'Reformas para a Conclusão do Presente Programa e Mais Além' e o segundo 'Análise Preliminar à Sustentabilidade da Dívida'".

Syntagma
É na principal praça de Atenas, frente ao Parlamento, que o povo tem expressado as suas posições nos últimos anos. Anos de austeridade levaram milhões de gregos para a rua contra os sucessivos governos. Também agora manifestações se têm sucedido, de sinal contrário, antecipando o referendo deste domingo.


Alexis Tsipras apela ao voto no "Não". Foto:EPA

Tsipras
O primeiro-ministro grego negociou durante meses com a Europa, não aceitou as propostas das instituições, viu recusadas as suas alternativas e acabou a jogar a cartada do referendo. Alexis Tsipras apelou até à última pela vitória do “não” “aos ultimatos” e a quem “aterroriza” os gregos e tenta tirar-lhes a “dignidade”.

Ultimato
A União Europeia garante que não há alternativa: A Grécia tem mesmo de fazer reformas e continuar a “apertar o cinto” sob pena de não haver dinheiro. O Governo do Syriza fala em “chantagem”. Atenas foi fazendo propostas, mas foram sempre consideradas “pouco sérias” por parte das instituições europeias. A solução “referendo” espantou a Europa e deixou a solução em suspenso.

Vitória
É difícil saber o que será uma vitória para o povo grego no rescaldo do referendo deste domingo. O que vai acontecer amanhã se o “Não” vencer, como defende o Governo? E com o “Sim” vai haver dinheiro para resolver as dificuldades imediatas dos gregos? Seja com “Sim” ou “Não” haverá novas medidas de austeridade? O Syriza demite-se? Quem vencerá as novas eleições?

Wolfgang Schäuble
O ministro alemão das Finanças simboliza aquilo que para o Governo grego é a intransigência europeia. Schäuble exige reformas concretas a Atenas, mais cortes, em troca do dinheiro que permita ao país respirar. "Não é fácil para a Grécia, mas também não é fácil para outros países. Ninguém pode viver de forma permanente acima das possibilidades", disse. Curiosamente, a Alemanha foi a primeira a sugerir um referendo para decidir a situação grega.

X (voto)
O Governo decidiu dar a voz ao povo depois de terem falhado meses de negociações. Milhões de gregos são chamados este domingo a colocar uma cruz no boletim de um referendo convocado à última hora que pode ser decisivo para o futuro do país. O Supremo Tribunal Administrativo da Grécia deu “luz verde” à pergunta sobre proposta de acordo com os credores.

Yanis Varoufakis
O ministro grego das Finanças transformou-se numa estrela mediática nos últimos meses. O seu estilo descontraído mas assertivo não deixou ninguém indiferente na Europa. Varoufakis tem um projecto alternativo, liderou as negociações até certa altura, depois foi afastado, mas já garantiu que, se o “sim” vencer, se demite na segunda-feira, embora se disponha a facilitar a transição.

Zona Euro
Foram semanas muito intensas, de negociações constantes, avanços e recuos. O entendimento nunca chegou e a decisão ficou em suspenso até se saber o resultado do referendo. A Zona Euro é actualmente composta por 19 países. A decisão deste domingo pode colocar a Grécia “fora de jogo”. As implicações desta eventual saída são imprevisíveis mas, por exemplo, Cavaco Silva desvalorizou: "Penso que o euro não vai fracassar, é uma ilusão o que se diz. A zona do euro são 19 países, eu espero que a Grécia não saia, mas se sair ficam 18 países".