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Recebeu um milhão de euros sem participar no negócio dos submarinos

16 dez, 2014

Família, contabilistas, PT e submarinos. Houve de tudo na 15ª audição da comissão de inquérito à gestão do BES e GES. Falou Manuel Fernando Espírito Santo, membro do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo.

Recebeu um milhão de euros sem participar no negócio dos submarinos
Foram cerca de cinco horas de audição aqui divididos em cinco temas. A comissão parlamentar de inquérito ao colapso do BES ouviu, esta terça-feira, Manuel Fernando Espírito Santo, presidente da Rioforte, 'holding' de topo do Grupo Espírito Santo (GES), e membro do Conselho Superior do grupo.

A Renascença faz a compilação do mais importante que foi dito. Traço comum a outros elementos da família houve um: a responsabilidade do que aconteceu não é de Manuel Fernando Espírito Santo, segundo o próprio.

"Corte radical" com Salgado podia "levar ao descalabro"
Manuel Fernando disse que Ricardo Salgado "mereceu sempre a plena confiança de todos porque era um membro sénior da família", uma pessoa "muito competente" e responsável pelo "êxito no crescimento do GES e do BES ao longo de duas décadas".

O antigo administrador não-executivo do BES reconheceu que, na segunda metade de 2013, quando foram conhecidas as contas da Espírito Santo International (ESI), houve críticas a Salgado, mas logo então o ex-banqueiro apresentou "ideias e soluções" e mereceu a confiança do Conselho Superior do GES.

Ainda assim, diz que não achou "normal" quando tomou conhecimento do presente de 14 milhões de euros que Salgado recebeu do construtor civil José Guilherme.

Já sobre a substituição de Salgado, que se discutiu a partir de Novembro do ano passado, o ex-administrador do BES diz que uma mudança na governação do banco e do GES devia ser gradual.

"Acreditámos que a mudança tinha de ser gradual. Optámos por dar a confiança ao doutor Ricardo Salgado, porque houve um receio de fazer um corte radical e haver um descalabro do grupo. (...) Infelizmente [o descalabro] veio a dar-se mais tarde", admitiu.

Culpa? Minha não. Há uma tríade que pode explicar
Sobre as responsabilidades na situação a que o GES chegou, o ex-administrador do BES argumentou não ser um financeiro e não ter sido da sua "competência ou responsabilidade" a dívida da Rioforte, 'holding' de topo da família Espírito Santo que liderava.

No que refere à dívida da Rioforte, Manuel Fernando Espírito Santo disse no Parlamento que esta era "matéria financeira" que não era da sua "competência ou responsabilidade".

"Não sou um financeiro e nunca fui membro das comissões executivas nem do BES, nem da ESFG, nem da Rioforte. Desde 2005 que as minhas funções no grupo eram apenas não executivas, embora acompanhasse como 'chairman' a estratégia da Rioforte", declarou.

Argumentou que o grupo tinha uma tesouraria central e que essa era gerida por Ricardo Salgado e José Castella, com o apoio de Francisco Machado da Cruz.

Garantiu que sempre acreditou que na reestruturação do GES, de tal forma que em Março de 2014 houve um aumento de capital na ES Control de 21 milhões de euros no qual participou com três milhões de euros. "Financiei-me num banco fora do grupo, dando como garantias a hipoteca da minha casa e prestando fiança pessoal. Passei, assim, pela primeira vez, a ser accionista da ES Control em Março de 2014".

Machado da Cruz: o homem que sabe de "muita coisa"
Em relação ao contabilista da 'holding' de topo do GES, Machado da Cruz, Espírito Santo disse que este sabia de "muita coisa", demarcando-se dos problemas de ocultação de contas na ESI.

"Ele tratava das contas, por isso ele sabia de muita coisa", declarou o antigo administrador do BES e presidente da Rioforte.

"O dr. Machado da Cruz é uma pessoa que conheço e por quem tinha admiração", prosseguiu, reconhecendo problemas em Março de 2014 aquando do pedido de gestão controlada da ESI.

"Houve um historial que foi perdido", disse, referindo-se a documentação e informação que se terá perdido, com responsabilidades do contabilista.

Submarinos: recebeu um milhão sem sequer intervir no negócio
Outro dos temas que esteve em destaque nesta audição foi o dos submarinos.

Manuel Fernando Espírito Santo garantiu que a comissão de um milhão de euros recebida para cada ramo representado no Conselho Superior do GES, devido ao negócio dos submarinos, foi "única" a nível deste órgão e "extraordinária" porque "o Conselho não aufere qualquer tipo de remuneração".

E esclareceu que: "Eu não intervim nesse negócio, de maneira nenhuma. Quem interveio foi a Escom". A Escom era a sociedade do GES com actividade em Angola.

Segundo corre nas notícias, cada um dos cinco ramos do universo Espírito Santo (quatro da família e o de Mosqueira Amaral, o clã aliado histórico do grupo) recebeu uma comissão de um milhão de euros devido ao envolvimento na operação de compra de dois submarinos pelo Estado português a um consórcio de empresas alemãs.

Mas tem sido falado com insistência de que houve um sexto elemento que também recebeu uma comissão de um milhão de euros.

O deputado do PS José Magalhães tem sido um dos mais activos a tentar apurar a verdade sobre esta matéria. "Quem é a sexta pessoa que ganhou uma comissão pelos submarinos? Tinha que fazer esta pergunta, senão ficava gago", atirou.

"Não sei quem era o sexto homem", garantiu Manuel Fernando Espírito Santo.

Só falou com a PT para dizer que não tinha dinheiro
O presidente da Rioforte revelou que o único contacto que teve com a PT foi "em Julho" para informar a operadora de que o GES não tinha dinheiro para reembolsar a sua aplicação.

Segundo o antigo administrador não executivo do BES, "a PT já tinha colocado dívida no grupo e em Março, ou Abril, devido à situação financeira da ESI [Espírito Santo International], decidiu fazer uma aplicação na Rioforte".

Ainda sobre a matéria, Manuel Fernando assegurou que só "soube nessa altura" da existência e da dimensão da aplicação financeira da operadora em dívida do GES, ou seja, quando a PT solicitou o seu reembolso.

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