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Dez mil kms não é assim tão longe. Moda lusa com América Latina na mira

23 jul, 2014 • André Rodrigues, em Medellín

Empresários portugueses do têxtil e calçado estreiam-se na semana da moda de Medellín. Para muitos, uma feira com saldo positivo traduz-se em muitos contactos para parceiros de distribuição num mercado de muitos milhões e ávido de consumo.

Dez mil kms não é assim tão longe. Moda lusa com América Latina na mira

Até ao final da semana, Portugal está representado na ColombiaModa, a semana da moda de Medellín, na Colômbia, com 40 empresários do calçado e dos têxteis. É já considerada a maior missão empresarial portuguesa de sempre na América Latina.

À conquista da América Latina, os empresários portugueses procuram aproximar a qualidade e o design europeus com as tendências do continente sul-americano.

Numa região do globo com uma vertiginosa densidade populacional, a marca Portugal quer tirar partido do evidente crescimento económico. Mesmo que para a maioria esta seja uma estreia, ainda sem uma estratégia claramente definida, o importante é estar no terreno e contactar com os agentes locais.

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Amílcar Monteiro, da Fly London, já implantou a marca no mercado norte-americano. Acredita ser um bom começo para quem se quer afirmar nas economias emergentes.

“Temos várias lojas nos Estados Unidos e vamos abrir mais uma em Setembro. Acredito que o mercado norte-americano funciona como uma espécie de farol para as economias emergentes desta região”, diz. É o caso da Colômbia.

O passo seguinte para a marca de calçado portuguesa é conhecer o padrão de consumo “e elaborar uma estratégia para este mercado que ainda se encontra em fase de exploração”.

Domingos Ferreira concorda. O administrador da Centenário acredita que o fim das barreiras comerciais entre a União Europeia e a Colômbia pode desbloquear um mercado cheio de potencial, mas com excesso de proteccionismo.

E exemplifica: “Nós temos um cliente do Equador que nos visita regularmente na feira de Milão e a percentagem de impostos cobrada à importação de calçado é assustadora, o que torna o produto extremamente caro”.

A cidade da eterna Primavera
Só na cidade de Medellín vivem dois milhões e meio de habitantes. São 40 quilómetros de extensão num aglomerado urbano onde coabitam os condomínios de luxo fechados e as favelas nas partes altas. O trânsito é um caos, sobretudo de manhã cedo e ao final da tarde.

Nada estranho em qualquer grande cidade da América do Sul. E aqui é sempre Primavera. A proximidade à linha do Equador proporciona temperaturas médias da ordem dos 27 graus o ano todo. Um clima adequado a quem está já a apresentar as colecções do próximo Verão. António Almeida, da Lunik, apresenta uma linha feminina, cheia de cor e arejada “muito adequada ao clima da zona”.

Enquanto uns procuram mais design, outros procuram conforto. O calçado português oferece ambos.

Alberto Sousa, da Eureka, trabalha essencialmente para o público feminino. A experiência diz-lhe que “muitas vezes, as mulheres – principalmente as mais jovens – preferem um sapato bonito a um sapato confortável… Nem que tenham de chegar ao emprego e trocar um calçado mais sofisticado por umas sabrinas. Mas na rua, gostam de realçar o lado feminino”.

Os homens preferem mais conforto. “Sobretudo dos 50 anos em diante”.

Uma ponte de 10 mil quilómetros
Também nos têxteis há estreantes na ColombiaModa. A aproximação requer envolvimento de agentes locais para facilitar a receptividade à marca Portugal.

José Gaia, dono da Layer Wear, está em Medellín à procura de parceiros. “No desenho das peças, para afinar o meu produto aos gostos locais, e na distribuição, uma vez que este é um mercado de dimensões gigantescas”, onde as propostas de negócio têm de ser muito bem filtradas, explica.

“Faz parte do feitio dos sul-americanos: quando falam connosco parecem bastante interessados em trabalhar com a nossa marca, mas depois, se formos a quantificar intenções de negócio concretizadas, podemos ficar desiludidos”, reconhece.

Sem se apresentar ao mercado latino-americano com uma estratégia já definida, José Gaia aposta “num conceito de moda a custo justo”, importante numa zona do globo onde o poder de compra está em crescendo mas ainda não é dos mais relevantes no conjunto do continente americano.

Sopram bons ventos no ambiente de negócios na Colômbia, não apenas pela proximidade a grandes destinatários de consumo, mas, sobretudo, porque este é hoje um país pacificado.

Um país bem diferente do tempo em que os cartéis de droga disputavam as rotas de distribuição da cocaína. Longe vão os tempos de uma Medellín imersa numa guerrilha desencadeada pelos operacionais do cartel encabeçado por Pablo Escobar.

O jornalista da Renascença viajou para a Colômbia a convite da Associação dos Industriais do Calçado (APICCAPS)