Emissão Renascença | Ouvir Online

Porque estão os bancos internacionais a sair de Portugal?

15 mai, 2014 • Joana Costa

Primeiro foi o Barclays, agora fala-se no BBVA. Outros bancos poderão deixar o país? Os depositantes devem ter receio?

Porque estão os bancos internacionais a sair de Portugal?

No espaço de uma semana, foi noticiado que dois bancos internacionais vão sair de Portugal. Há uma semana, o britânico Barclays anunciou que vai vender ou suspender o negócio em Portugal. Esta quinta-feira, o jornal espanhol “El País” diz que o Banco Bilbao Vizcaya (BBVA) vai abandonar o país ao fim de 23 anos.

As notícias não surpreendem o investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), Nuno Teles.

“Não me surpreende que os grandes bancos internacionais, cuja actividade não está centrada no nosso país, ao contrário dos bancos nacionais, abandonem o mercado português por ser menos rentável, e procurem novas paragens mais rentáveis para o seu negócio”, explica à Renascença.

“Há um modelo de negócio da banca em Portugal que antes da crise estava muito alicerçado na questão da expansão imobiliária e no endividamento às famílias. Com a crise internacional e com a crise europeia do euro, esse modelo de negócio que permitiu uma expansão imensa do sector bancário entrou em crise”, acrescenta o investigador.

Depositantes não devem ter receios
Aos portugueses depositantes com contas no Barclays ou no BBVA (caso se confirme a saída do banco de Portugal) que possam recear o fecho destes bancos, o investigador avisa que não há motivos para receios.

Quando as agências são reestruturadas, os activos e os créditos da banca passam para outro banco nacional ou internacional.

“Foi o que aconteceu com o BPN na altura em que foi nacionalizado e agora quando foi reprivatizado com o BIC. As pessoas não perdem os depósitos nem deixam de pagar as suas dívidas. Têm é um novo gestor dos seus activos e dos seus créditos”, explica.

“Quem tem a recear com o fecho destes bancos são os trabalhadores, porque as agências vão ser reestruturadas”, remata.

Comunicação "indecente"
Os trabalhadores são a prioridade do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. À Renascença, o seu presidente, Rui Riso, mostra-se contra a “forma indecente” de comunicação destas informações e expectante quanto à compra do Barclays que, garante, os responsáveis do banco britânico em Portugal desconheciam.

“Se a operação for vendida, quando os bancos compram operação compram trabalho, e se compram trabalho precisam de mais trabalhadores. A nossa expectativa é que um grupo grande de trabalhadores, ou todos, se possível, sejam incorporados no comprador da actividade”, conta.

Rui Riso, que prefere não comentar a saída do BBVA “porque ainda não há confirmação”, tem uma explicação para as saídas dos bancos internacionais de Portugal. “Isto na prática é tudo resultado da austeridade e da diminuição da actividade económica no sul da Europa e da consequente diminuição da actividade bancária”.

Nuno Teles concorda. Num contexto de retracção económica, menores rendimentos e desemprego elevado, “é mais difícil um banco emprestar às famílias e ter confiança no re-pagamento desse empréstimo”.

Haverá mais bancos a querer sair?
O investigador do CES não acredita que outros bancos decidam sair de Portugal porque a banca estrangeira “não tem grande peso” na estrutura bancária nacional.

“Estes dois tinham alguns balcões, mas a banca estrangeira não tem grande peso, tirando o Santander Totta que é o maior banco internacional em Portugal”. E esse tem apresentado valores positivos nos últimos anos.