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Especialista avisa que casos BPN e BPP podem acontecer de novo

12 fev, 2014 • Pedro Rios

Director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra reconhece avanços na actuação de regulação do Banco de Portugal, mas diz que o verdadeiro problema é a “financeirização” da economia.

Especialista avisa que casos BPN e BPP podem acontecer de novo

Portugal não está livre de ter um novo caso semelhante ao do BPN ou do BPP, avisa o director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, José Reis.

Problemas como a burla de que são acusados três ex-gestores Banco Privado Português (BPP), que começaram esta quarta-feira a ser julgados, ou o escândalo do Banco Português de Negócios (BPN) "podem acontecer de novo", apesar das melhorias na supervisão do Banco de Portugal, diz José Reis.

"O regulador, por mais bem que faça, é na verdade um contemporizador com este estado de coisas. Este estado de coisas que está a montante da própria regulação diminui em grande medida a eficácia e a natureza útil dessa regulação. Temos que ter noção destes limites", refere o professor catedrático à Renascença.

José Reis reconhece avanços na actuação de regulação do Banco de Portugal. Um avanço insuficiente, afirma, porque o verdadeiro problema é a "financeirização" da economia. "O domínio financeiro autonomizou-se, de uma forma libertina, diria eu, relativamente à sua função original, ao papel que devia desempenhar nas economias."

"Houve momentos em que esta regulação bancária foi mais laxista e, portanto, tem óbvias responsabilidades no que aconteceu. Contudo, os problemas estão muito a montante disso", reflecte. "A 'financeirização' predomina hoje nas relações de poder" e é um "processo muito desequilibrador" da forma como a economia funciona.

"Neste processo de 'financeirização', o papel do sistema bancário tornou-se também ele desproporcionalmente poderoso e muito pouco cumpridor de regras e de bons princípios de gestão porque está mais preocupado com lógicas de especulação e de reforço dessa 'financeirização'", conclui.

Para o economista, este modelo económico não encontra crítica nos reguladores. "A essência do modelo económico não mudou e os reguladores têm uma cabeça que é contemporizadora com esta descrição que aqui estou a apresentar de um modo crítico. Muitas vezes os reguladores são apologéticos disto."