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D. José Policarpo

Igreja respondeu à crise com "obras e não com palavras"

02 out, 2012

Em entrevista à Renascença, Cardeal Patriarca critica a relação dos portugueses com o Estado e defende mais intervenção das comunidades na saúde e na educação.

Igreja respondeu à crise com "obras e não com palavras"
A pouco mais de uma semana do "Ano da Fé", em entrevista à Renascença, o Cardeal Patriarca critica a relação dos portugueses com o Estado e defende mais intervenção das comunidades na saúde e na educação.

A melhor forma da Igreja participar na situação que Portugal vive é com obras e não com palavras, defende o Cardeal Patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

“Penso que houve uma coisa muito bonita desta crise que estamos a viver que foi que a participação a Igreja não foi de palavras, foi de obras. E graças a Deus com uma grande resposta. Desafiámos os nossos cristãos a estar atentos ao seu próximo, ao seu vizinho e a agir. Em vez de estar a tomar posições solenes de condenação de soluções governativas, olhar o que as pessoas estão a vier … é isso que é a nossa missão. Esta foi uma opção muito simples de realismo da caridade cristã”, diz D. José Policarpo em entrevista ao programa “Terça à Noite”, da Renascença.

Nesta conversa - conduzida pela directora de Informação, Graça Franco – o Cardeal Patriarca critica a relação dos portugueses com o Estado, que considera em parte responsável pela actual situação do país.

“Os portugueses são em parte responsáveis pelo que se está a passar, porque têm um conceito de vida em comunidade em que o Estado tem obrigação de tudo. Pedem-lhe tudo”, afirma D. José Policarpo, manifestando-se “surpreendido”, no caso das fundações, com a quantidade de entidades que recebiam dinheiros públicos e que reivindicam receber. “Se o Estado gasta dinheiro nessas outras coisas, vai ter dificuldade aquilo que são as necessidades primárias e fundamentais da comunidade e que realmente lhe competem”, acrescenta.

O bispo de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal também questiona o próprio Estado, que “se considera o único prestador legítimo de serviços e saúde”, enquanto “todas as outras iniciativas, algumas de grande qualidade, estão reservadas para quem as pode pagar”. Por isso, defende que na saúde e na educação há passos que é preciso dar e que já foram dados por outros países da União Europeia, no sentido “da integração coordenada de todas as potencialidades da comunidade para resolver serviços fundamentais da mesma comunidade”.

Nesta entrevista à Renascença, o Cardeal Patriarca também enuncia qual acha que é grande objectivo da Igreja com o Ano da Fé: ajudar a dar resposta para os muitos que andam à procura de sentido e de caminho.

“O que há é muita gente que procura inquietações no seu coração. O ateísmo não é uma verdade adquirida, como a fé também não é nunca. É uma procura. Essa gente que procura, que tem um anseio, a Igreja pode ajudá-los a encontrar uma resposta”, afirma o presidente da CEP, a uma semana do início do Ano da Fé.