Grécia: entre o (muito) receio e o entusiasmo

26 jan, 2015 • Pedro Caeiro

Se a vitória do Syriza na Grécia não foi uma surpresa, dadas as sondagens mais recentes, também é sem surpresa que a vitória de um “partido de protesto” num país da União Europeia seja o grande destaque desta manhã nas capas dos jornais.

Grécia: entre o (muito) receio e o entusiasmo
A imprensa internacional divide-se entre o receio e o entusiasmo. A única ideia comum é a de que se tratou se um resultado “histórico” nas urnas.

Particular atenção, claro, esta manhã, para as reacções na vizinha Espanha. Isto porque aqui ao lado há eleições à porta e há um cenário muito semelhante ao grego. Ou seja, o eleitorado está disposto a votar na incerteza de um movimento novo (no caso, o Podemos) e a castigar os dois partidos que alternam habitualmente no poder em Madrid: o PP e o PSOE.

Os receios vêm estampados na capa do “El País”, que escreve que “A vitória do Syriza antecipa um período de agitação na Europa”.

O “El Mundo” escreve que a “Grécia desafia a “troika” e destaca que os neo-nazis do Aurora Dourada são agora a terceira força política grega, “após o recuo da direita e a falhanço dos socialistas”. Fazendo um paralelo com o caso grego, o “El Mundo” recorda o aviso deixado ainda ontem pelo líder do Podemos, ao Primeiro-ministro espanhol. Pablo Iglesias disse que “Já se ouve o tique-taque da mudança”.

O “La Razón” faz um trocadilho com a palavra “desgraça” e o título escolhido é “Desgrécia” e diz mesmo que os gregos se lançaram “num abismo populista". Quanto ao “ABC” traz na capa uma foto de grandes dimensões de Alexis Tsipras de braços no ar, com o título “O populismo apropria-se da Grécia”, e a escrever que se abre “uma etapa de incerteza no conjunto da Europa”.

Por cá, o “Jornal de Notícias” ocupa grande parte da primeira página com Tsipras a agradecer a vitória sob o título ”Grécia: o princípio do fim da austeridade”. Mais ou menos o mesmo diz o “Público”: “Grécia vira a página da austeridade e deixa Europa a fazer contas”. O “Negócios” não vai muito além disto e escreve: “Syriza vence com estrondo e anuncia fim da austeridade”. O jornal “i” deixa uma pergunta: “Poderá este homem devolver a Grécia a si própria?”. Quanto ao “Diário Económico” faz uma pergunta ainda mais curta: “E agora Tsipras?”.

Lá por fora, “mais do mesmo”. O “The Guardian” prevê um cenário de instabilidade e escreve na manchete “Vitória histórica do Syriza coloca Grécia em rota de colisão com a Europa”. Para o diário britânico, “a política europeia mergulhou numa nova era de instabilidade depois da vitória histórica dos radicais de Esquerda nas eleições nacionais da Grécia” e lembra que o Syriza comprometeu-se a “acabar com os anos de austeridade”.

As eleições gregas estão também em evidência na edição online do alemão “Der Spiegel” que destacava o comentário do editor de economia. Christian Rickens admite, no seu artigo, que haverá “consequências pouco favoráveis para a Grécia e para a Europa”, mas afirma que “é importante dar uma oportunidade a Alexis Tsipras”.

Em França, o “Le Monde” destaca a “vitória histórica da Esquerda Radical na Grécia” e diz que a dívida é “a prioridade do novo Governo grego”.

Por fim, nos Estados Unidos, o “New York Times” não esquece a grande comunidade grega que ali vive. E traz na capa “Gregos votam em inimigos da austeridade” e chama-lhe “uma enorme viragem”, com “um aviso ao resto da Europa”.