Excelência na investigação portuguesa tem ajuda europeia

22 abr, 2015 • Ana Carrilho

Alguns dos melhores investigadores portugueses têm recebido ajudas financeiras por parte de Bruxelas. Hoje conhecemos alguns deles e quais os projectos que só andam graças às ajudas comunitárias.

Excelência na investigação portuguesa tem ajuda europeia

O Conselho Europeu de Investigação atribuiu mais de 700 milhões de euros em bolsas a 372 investigadores, no âmbito do 2º concurso “Consolidator Grant Competition”. São investigadores de alto nível, que estão numa fase intermédia da sua carreira e que vão receber financiamentos da União Europeia, no máximo de 2 milhões e 750 mil euros para prosseguirem as suas investigações e consolidarem as equipas. E entre eles, estão 9 portugueses.

A selecção é muito rigorosa e desta vez, cerca de 15% dos candidatos tiveram êxito. Entre os portugueses, há quem já tenha experimentado a alegria da vitória outras vezes. Portugal também marca a diferença pelo número de investigadoras que receberam a bolsa. Quase metade do total.

A Renascença foi conhecer dois destes cientistas financiados pelo Conselho Europeu de Investigação. Um deles é Cristina Silva Pereira, 42 anos, doutorada em Bioquimíca. Ela coordena o Laboratório de Micologia Ambiental e Aplicada do Instituto de Tecnologia e Química Biológica da Universidade Nova de Lisboa. Concorreu, pela 2ª vez, a uma bolsa “Consolidator Grant Competition” do Conselho Europeu de Investigação e recebeu 1 milhão e 800 mil euros para desenvolver a sua investigação e consolidar a equipa, nos próximos 5 anos.

Em entrevista a Ana Carrilho, Cristina Silva Pereira revelou que o propósito do seu projecto é desenvolver novas técnicas terapêuticas de combate aos fungos que ganham cada vez mais terreno. A investigadora Cristina Silva Pereira sublinha que há cada vez mais pessoas vulneráveis, nomeadamente, com diabetes, que são submetidas a quimioterapia ou a transplantação.

E como é que Cristina Silva Pereira quer combater os fungos? Com a ajuda das plantas que criam, elas próprias, uma barreira de poliéster que funciona como uma espécie de penso, protegendo as feridas ou travando a infecção. Todas as plantas têm este poliéster vegetal mas, umas têm mais que outras, como é o caso do sobreiro.

E que importância é que esta bolsa dada pelo Conselho Europeu de Investigação tem para o desenvolvimento do projecto? Cristina responde, sem rodeios: “tem credibilidade e um prémio destes traz um rótulo de qualidade que é muito interessante e deve ser explorado”.

A equipa de Cristina Silva Pereira tem 13 pessoas, metade afectas ao projecto. Destes, a maior parte são doutorados e dois estão a fazer doutoramento. Com mais dinheiro, pode abrir concurso para outros investigadores que podem vir de qualquer parte do mundo e alargar o leque multidisciplinar.
E sem esta bolsa, o projecto continuaria? A investigadora do ITQB garante que sim, mas com maiores dificuldades e mais lentamente. O objectivo final é a utilização clínica da descoberta, mas Cristina Silva Pereira diz que a via industrial pode trazer financiamento privado. E também ajudar.

As bolsas premeiam os cientistas, mas também dão maior visibilidade e reputação às instituições a que pertencem. O director do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, Cláudio Soares, diz que todos têm a ganhar, a começar pelos investigadores, que também conseguem maior estabilidade na sua carreira.

Uma visão partilhada por Henrique Veiga Fernandes, investigador e membro da Direcção do Instituto Medicina Molecular. É a terceira vez que recebe um financiamento da União Europeia. Desta vez foram 2,5 milhões de euros. O cientista quer saber como é que os glóbulos brancos funcionam numa infecção e, sobretudo, em doenças do intestino, como a doença de Crohn.

Em concreto, esta verba atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação é importante “porque a investigação nesta área passa por um grande investimento tecnológico, com valores muito elevados e que não podem ser alcançados com financiamento nacional”.

Henrique Veiga Fernandes não tem qualquer dúvida de que os financiamentos internacionais foram determinantes para o sucesso da sua carreira e de outros investigadores do Instituto de Medicina Molecular que têm recebido bolsas. Foi, de resto, o que aconteceu agora, igualmente, com João Barata e Bruno Silva Santos. Para já, os investigadores do IMM são mais reconhecidos individualmente do que a Instituição, mas Veiga Fernandes espera que se atinja maior equilíbrio e que o Instituto agregado à faculdade de Medicina se torne mais autónomo face ao financiamento estatal, através da Fundação para a Ciência e Tecnologia. 

Quem pode concorrer?
A Europa quer apostar na inovação, na investigação e no conhecimento. E tem dinheiro para financiar os melhores projectos, cuja pesquisa e resultados sejam positivos para os cidadãos.

Em Portugal, o processo de candidaturas é coordenado pelo Gabinete de Promoção do Programa Quadro de Investigação e Desenvolvimento. À jornalista Ana Carrilho, a coordenadora-adjunta do programa, Ana Mafalda Dourado, explicou quais são os financiamentos disponíveis e quem pode candidatar-se. E deixou também claro que a credibilidade dos investigadores e das instituições nacionais está a crescer por esse mundo fora.