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Cuba, negócios e política. A "abertura" também chega à América?

06 mar, 2015 • José Pedro Frazão

A União Europeia está a negociar em Havana os novos termos da relação entre os 28 e o país dos irmãos Castro. No Fora da Caixa, Santana Lopes e António Vitorino comentam a forma como o processo está também a avançar nos Estados Unidos, com diversos impactos políticos e económicos.

Cuba, negócios e política. A "abertura" também chega à América?
A União Europeia está a negociar em Havana os novos termos da relação entre os 28 e o país dos irmãos Castro. Santana Lopes e António Vitorino comentam a forma como o processo está também a avançar nos Estados Unidos, com diversos impactos políticos e económicos.
A Europa não quer ficar atrás dos americanos. Depois do arranque da normalização de relações entre Cuba e os EUA, o processo avança também do lado europeu, dando continuidade a conversações que começaram há um ano. O tema é discutido no Fora da Caixa da Renascença, esta sexta-feira.

António Vitorino lembra que Espanha foi o país da União Europeia que esteve mais na linha da frente da manutenção das relações com Havana, mas lembra que subsistem obstáculos de natureza política.

"São relações que nunca foram fáceis sobretudo por razões políticas. A forma como o regime cubano tratava os dissidentes, a oposição, a questão dos direitos humanos, foram sempre factores de grande perturbação da relação entre a União Europeia e Cuba. Isso mantém-se e, portanto, a expectativa que existe, quer do lado americano, quer do lado europeu, é que o fim do embargo – uma política que toda a gente percebia que não tinha nenhum dos resultados que se tinham afirmado como objectivos – permita uma maior abertura interna do regime cubano", argumenta o antigo comissário europeu.

O socialista fala numa "segunda oportunidade" de abertura em Cuba depois de um movimento de alguma liberalização "há uns 15 anos".

O dinheiro conta muito. "Numa altura como esta, os interesses mandam muito", constata Santana Lopes, ao observar que "os empresários americanos não conseguem esconder o seu fascínio pelas oportunidades escondidas que eles calculam que possam encontrar, para além da informação toda de que dispõem".

Republicanos mais rendidos a Cuba?
O antigo primeiro-ministro assinala que a polémica interna levantada nos Estados Unidos a propósito do anúncio de Obama está a diminuir de intensidade.

"Estava a ouvir uma entrevista a Obama e a pensar como a contestação à opção do Presidente perdeu força e gás – como se está a impor a realidade das coisas, como era anormal a situação que se vinha prolongando ao longo do tempo e que não fazia qualquer sentido. Estou curioso para ver se o candidato do Partido Republicano vai abraçar a causa das relações com Cuba do modo como aqui há três ou seis meses se podia antever".

Vitorino concorda. "Há um certo amortecimento do tema, que já não desperta hoje as paixões do passado. Mas obviamente a posição tradicional dos republicanos é crítica em relação a este tipo de abertura em relação a Cuba. O paradoxo é que o candidato republicano com mais hipóteses de ganhar as eleições, Jeb Bush, vem da Flórida e é, por acaso, o candidato mais moderado do Partido Republicano. Os mais radicais não vêm da Flórida".

Tudo é possível na política americana, acrescenta o comentador socialista. "Alguém estaria à espera que de repente os emails da senhora Clinton se tornassem no grande assunto do debate? Dos EUA e da política americana, há que esperar tudo. Não posso excluir nada".

Santana Lopes, admirador de Hillary Clinton ("ainda não vi ninguém que me agrade mais [nos presidenciáveis]”) acredita que a antiga primeira-dama dos EUA poderá ultrapassar este problema. "Se não aparecer nenhum email explosivo, não é?"

O programa Fora da Caixa é uma parceria Renascença/Euranet, para ouvir depois das 23h00 de sexta-feira