Emissão Renascença | Ouvir Online

Santana diz que Durão não "ousou vencer" em Bruxelas

06 jun, 2014 • José Pedro Frazão

"É preciso saber arriscar para vencer a crise. A Comissão Europeia ficou ensanduichada entre o duo Alemanha-França e as outras instituições”, afirma o antigo primeiro-ministro.

Santana diz que Durão não "ousou vencer" em Bruxelas
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, “arriscou pouco” durante o seu mandato e demonstrou falta de ousadia, afirma o antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes no programa Fora da Caixa da Renascença desta sexta-feira.

O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, “arriscou pouco” durante o seu mandato e demonstrou falta de ousadia, afirma Pedro Santana Lopes no programa Fora da Caixa da Renascença, esta sexta-feira.
 
“Durão Barroso teve muitos factores que não o ajudaram, mas ele também ajudou-se pouco a si próprio”, começa por referir o provedor da Santa Casa de Misericórdia.

Para o antigo líder do PSD, Barroso “arriscou pouco. Quem quer liderar - então numa situação de crise - tem que ousar vencer”, numa referência irónica ao slogan do PCTP-MRPP, a que pertenceu Durão Barroso. “É preciso saber arriscar para vencer a crise. A Comissão ficou ensanduichada entre o duo Alemanha-França e as outras instituições”.
 
Santana Lopes diz que Barroso quis vestir o fato de um grande na Europa “e, em certa medida, esqueceu-se dos pequenos, da coesão. Não de Portugal, porque é um patriota. Mas um europeísta como ele não pode esquecer essa vertente”, critica. Um facto insólito numa Comissão presidida por um homem de um país periférico. “É uma desilusão”, reconhece.
 
Falta de liderança
Para o homem que sucedeu a Durão Barroso em São Bento, a questão fundamental é a da liderança. Santana Lopes considera que os dez anos de Durão Barroso em Bruxelas ficam marcados por uma ausência da liderança da Comissão e do seu presidente, por razões que também ultrapassaram o próprio Barroso.

“As pessoas sentiram a falta de uma voz de comando nas instituições europeias”, considera Santana para quem o aparecimento do presidente do Conselho Europeu, Van Rompuy, não ajudou, trocando as voltas ao português mais poderoso de Bruxelas.

“Não digo que Durão Barroso não viveu uma situação muito difícil. Apanhou uma crise imensa, apanhou um ‘embrulho’. Mas os líderes revelam-se ou não aí”, sublinha.
 
Tímido e lento na resposta à crise
Antes de Durão Barroso ser indigitado para o cargo, António Vitorino era um nome discutido nos corredores. O ex-comissário considera que os problemas começaram no segundo mandato do ex-primeiro-ministro português.

“Não estou a dizer que a responsabilidade fosse da Comissão, mas da maneira como esta crise foi gerida criou-se uma enorme desconfiança e fracturas entre os Estados. E a Comissão não esteve à altura da sua responsabilidade para impedir que uma certa narrativa punitiva dos Estados periféricos acabasse por fazer o seu caminho”, atira.
 
A Comissão foi muito tímida no começo da crise do euro, diz o antigo ministro socialista. “Não era um problema de pôr dinheiro em cima da mesa, mas de arquitectar uma resposta e uma estratégia. Aí a comissão levou bastante tempo a tentar reagir à crise." 

Um vazio a favor de Merkel
António Vitorino diz que a Comissão Barroso teve uma conduta calculista, mesmo sabendo que com a oposição da Alemanha e da França, mesmo do Reino Unido, nenhuma proposta avança. Mas “numa situação de emergência é preciso arriscar. O que a Comissão não fez foi arriscar. Durão Barroso não arriscou e criou um vazio”, argumenta o ex-comissário.
 
Era tudo o que a chanceler alemã, Angela Merkel, apoiada pelo então Presidente francês, Nicolas Sarkozy, precisava para consolidar a sua liderança e o ascendente do Conselho Europeu, defende António Vitorino.

“Criado esse vazio, o duo ‘Merkozy’ preencheu o terreno. Quando a Comissão tentou recuperar já era um pouco tarde porque aqueles pesos-pesados já estavam instalados. E até se sentiam confortáveis com o estatuto que adquiriam no inicio da crise”, conclui o comentador da Renascença.

O programa Fora da Caixa, que pode ouvir à sexta-feira a partir das 23h00, na Edição da Noite, é uma colaboração da Renascença com a EURANET PLUS, rede europeia de rádios.