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Acordo comercial EUA-UE pode abrir caminho a novo entendimento global

14 abr, 2014 • José Pedro Frazão

A relação Europa/Estados Unidos esteve em análise no programa “Fora da Caixa”, da Renascença. O antigo comissário europeu António Vitorino acredita no poder multiplicador da parceria transatlântica. Pedro Santana Lopes diz que a Europa será sempre um porto seguro para os americanos.

Bruxelas e Washington vão trabalhando um novo acordo comercial. Nos corredores europeus, conta António Vitorino, o acordo só será fechado daqui por um ano, no mínimo.

"Isto vai arrastar-se. A questão da espionagem é um caso muito sensível. Os alemães estão muito desconfiados e os europeus têm critérios de protecção de dados diferentes dos americanos. É o exemplo de uma matéria que vai ser difícil de negociar", admite o ex-comissário europeu.

António Vitorino diz que o mais importante é discutir os chamados padrões de comércio internacional. Conseguir esse acordo pode gerar novos entendimentos, porque " as regras técnicas em questões como a saúde ou o ambiente têm um peso tal que obviamente vão contaminar outros acordos comerciais à escala mundial".

Velhos aliados e novas balanças
Os Estados Unidos estão cada vez mais virados para o Pacífico, mas o social-democrata e provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Pedro Santana Lopes, admite que o acordo com a Europa "pode permitir equilibrar a relação dos Estados Unidos com a Europa ‘vis-a-vis’ a grande dor de cabeça que representa a grande balança comercial e de pagamentos com países do Oriente, principalmente a China, além de Japão e outros”.

“Julgo que os Estados Unidos encontrarão sempre maiores factores de tranquilidade e serenidade face à credibilidade económica e social da Europa. Mesmo para a sua economia, conseguindo relações estáveis ao nível militar, comercial, político, na indicação tempestiva dos seus representantes diplomáticos", sustenta.

Mas existem diferenças assinaláveis. É um acordo mais difícil na agricultura, não tanto pela questão das tarifas mas por causa das normas técnicas aplicáveis, diz António Vitorino: "Há divergências dos dois lados do Atlântico sobre o princípio da precaução, muito importante para os europeus e que leva a conflitos sobre questões como os organismos geneticamente modificados."

Santana Lopes chama a atenção para uma linha vermelha que a Europa tem que marcar "e manter a tinta sempre viva, relacionado com as questões regulatórias e as diferenças de estado para estado nos EUA, em matéria aduaneira, ambiental, energética. Vai ser o cabo dos trabalhos mas essas diferenças de estado para estado podem inviabilizar os objectivos do acordo."

E Portugal?
A questão das tarifas é muito importante e para matérias muito sensíveis para Portugal como os têxteis e o calçado, sublinha António Vitorino.

"Portugal é um dos países que tem a beneficiar com um acordo económico deste tipo. Não só porque já temos um índice de exportações significativo para os Estados Unidos- em parte pela gasolina refinada em Sines – mas somos um país de vocação atlântica", sublinha o ex-comissário.

António Vitorino alerta: novas oportunidades pela facilidade de entrada no mercado americano criam uma enorme responsabilidade para as empresas portuguesas."

Portugal deve empenhar-se na negociação deste acordo, no seu sucesso e deve continuar a olhar para este acordo para o seu crescimento e internacionalização", remata o antigo comissário.

O "Fora da Caixa" é um programa da Renascença, em parceria com a rede de rádios Euranet Plus.