O adeus às quotas leiteiras 30 anos depois

O sistema de quotas de produção de leite vigorava desde há 30 anos e foi introduzido numa época em que a produção comunitária excedia largamente a procura. Agora os tempos são outros, como explicou o comissário Phil Hogan, responsável pela Agricultura e Desenvolvimento Rural: “Isto surge numa altura em que a procura mundial de lacticínios está em crescendo. Tem vindo a crescer, em média, 2% ao ano. Por isso, o fim da restrição à produção e venda destes produtos pode ser visto com optimismo. As perspectivas são encorajadoras, porque a procura nos mercados está a aumentar muito”.

A Comissão Europeia prevê algum impacto junto dos produtores, que vinham beneficiando de algum apoio comunitário para produzirem menos, mas Phil Hogan garante que Bruxelas não os vai deixar entregues a si mesmos: “Muitos produtores têm mostrado preocupação com o preço do leite neste novo contexto. Haverá uma ajuda disponível em todos os Estados-membros, através de um apoio do Banco Europeu de Investimento, para a reestruturação do sector dos lacticínios. Mas, como já disse vou continuar vigilante, caso sinta que haja uma ameaça ao mercado leiteiro”. 

Phil Hogan recordou, de resto, que a decisão não apanha ninguém de surpresa. Estava prevista desde há 12 anos. Mais de uma década para os produtores se prepararem: “Isto não é surpresa nenhuma, porque resulta de uma decisão tomada há 12 anos no sentido de abolir em definitivo o sistema de quotas de produção do leite. E, pela primeira vez em mais de 30 anos, os produtores europeus vão apenas responder às leis do mercado”. Assim, a partir do dia 31, acabam-se as quotas leiteiras na União Europeia.

Ouvido pela Renascença, o secretário-geral da Federação Nacional de Uniões Cooperativas de Leite e Lacticínios, Fernando Cardoso, explica que as perdas são difíceis de quantificar.

Apesar das promessas feitas ontem pelo Comissário Phil Hogan, de que haveria apoios e uma atenção especial aos problemas do sector leiteiro, a FENALAC não se mostra convencida.

Fernando Cardoso, ainda assim, olha para o futuro com algum optimismo e, embora reconheça dificuldades, acha que os produtores nacionais de lacticínios têm condições para dar a volta ao negócio.

Eurobarómetro espantou Santana e Vitorino
A marcar a semana, os dados que detalhámos na passada quarta-feira e que surgiram no Eurobarómetro sobre a percepção que os portugueses têm da União Europeia. Nomeadamente do que o país ganhou e perdeu com a adesão. No programa Fora da Caixa, que vai para o ar depois das 23h, Santana Lopes e António Vitorino comentam a opinião dos portugueses. O antigo Primeiro-ministro mostra-se surpreendido com alguns dados. Santana Lopes “esperava algum cepticismo por parte dos portugueses em relação à Europa e não esperava uma visão optimista do futuro próximo”.

Por seu lado, António Vitorino, antigo Comissário Europeu, acha um paradoxo que as pessoas critiquem a Europa pela austeridade, mas vejam nela “uma espécie de reserva” e achem que “a União Europeia faz parte da solução”.

Eleições em França e Inglaterra à porta
A forma como os portugueses vêem a União Europeia não é bem a mesma como os franceses a vêem por estes dias. É que as Eleições Regionais do passado domingo ditaram uma viragem à Direita, com o Governo de François Hollande a ser castigado nas urnas pelo eleitorado com a coligação liderada pela UMP de Nicolas Sarkozy a vencer a primeira volta com 30% dos votos. Mas com esse dado importante, é que a Frente Nacional liderada por Marine Le Pen passou a ser a segunda força política em França e ultrapassou o Partido Socialista do Presidente François Hollande, que foi relegado para terceiro. No próximo domingo realiza-se a segunda volta.