25 mar, 2012 • Aura Miguel
Mais de um milhão de mexicanos saiu à rua para acolher o Papa. Nestas terras secas e montanhosas do México profundo, centro geográfico do país onde o número de católicos ronda os 94%, aqui se encontra o monumento a Cristo Rei – santuário nacional e meta habitual de peregrinação. A estátua original foi inaugurada em 1923 e destruída à bomba em 1926, por decisão do próprio Presidente mexicano da época. A escultura actual de Cristo Rei só viria a ser inaugurada mais tarde em 1940.
A identidade católica do país assenta nestes dois pilares e foi esse o motivo principal que levou Bento XVI a escolher Léon para esta visita ao México, uma vez que João Paulo II tinha estado por diversas vezes no santuário da Virgem de Guadalupe e nunca tinha vindo aqui.
Bento XVI valorizou “a inquebrantável fidelidade ao Evangelho e entrega à Igreja” de tantos mártires mexicanos, mas também alertou para os actuais desafios, não menos decisivos. “Neste tempo em que tantas famílias se encontram divididas ou forçadas a emigrar, quando muitas sofrem por causa da pobreza, da corrupção, da violência doméstica, do narcotráfico e criminalidade (só nos últimos 5 anos, morreram 50 mil pessoas, vítimas da violência), recorramos a Maria, à procura de conforto, fortaleza e esperança”, afirmou o Papa neste Domingo. O mesmo se diga quanto à actualidade do Santuário de Cristo Rei, que deve ser “lugar de peregrinação, oração fervorosa, conversão, reconciliação, busca da verdade e acolhimento de graça”, desde que os cristãos “resistam à tentação de uma fé superficial e rotineira, por vezes fragmentada e incoerente”.
Neste domingo, destaque ainda para o discurso do cardeal Bertone proferido num jantar que reuniu bispos e cardeais de toda a América Latina. O Secretário de Estado do Vaticano destacou a importância da liberdade de consciência e de culto, recordando que a actividade política nunca deve converter-se em luta de poder, nem impor sistemas ideológicos rígidos.
Bento XVI parte agora do México, com alguns “recuerdos” bem típicos daqui: um “sombrero” e um poncho, uns sapatos de couro feitos à mão e umas gravações de famosas canções “mariachi”.
Agora, nesta segunda-feira, inaugura uma segunda etapa, não menos histórica. Como ele próprio disse no avião, à saída de Roma, trata-se de “percorrer a paciente estrada de colaboração e diálogo inaugurada por João Paulo II”. Uma estrada onde é “evidente que a ideologia marxista, tal como era concebida, já não responde à realidade” e que exige “encontrar novos modelos, em espírito de diálogo, para evitar traumas”. A este propósito, Lech Walesa escreveu pessoalmente a Bento XVI pedindo-lhe que interceda pelos presos que se opõem ao regime, na esperança de que a visita possa alcançar mudanças positivas na vida dos cubanos e abrir um novo capítulo na história de Cuba, tal como João Paulo II o fez quando visitou a Polónia.