Com um pé no sucesso

19 mar, 2012 • André Rodrigues

Na semana em que a Renascença apresenta o que se faz no Portugal inovador, eis uma história de uma empresa do Porto e que já chegou aos pés dos atletas do Chelsea e de um dos melhores avançados europeus - Robin Van Persie, do Arsenal.

Com um pé no sucesso

Em 2004, Paulo Ferreira dos Santos, licenciado em informática de gestão, integrava o grupo cujo nome foi adoptado para baptizar a empresa que viria a instalar-se três anos mais tarde no UPTEC Ciência, a incubadora de empresas tecnológicas da Universidade do Porto. "O objectivo era que os nossos produtos fossem as opções de amanhã quando a empresa fosse criada."

Em 2007, a Tomorrow Options deixou de ser uma equipa de mestrado para ser uma empresa de soluções em saúde, usando a tecnologia mais avançada. O primeiro produto chegou ao mercado em 2010: uma palmilha com sensores que mede a pressão da planta do pé em movimento.

O "WalkinSense", tal como se designa, permite aos profissionais de saúde a prescrição adequada do tratamento do pé diabético e ajuda a indústria de calçado a conceber as melhores soluções para pessoas com esse problema. Os custos do aparelho são elevados, mas são tremendamente inferiores, quando comparados com a despesa total do tratamento de úlceras do pé diabético.

O administrador da Tomorrow Options, Paulo Ferreira dos Santos, fez as contas: “Um WalkinSense para dois pés custa cinco mil euros, se for para um pé custa cerca de três mil. Tendo em conta que uma úlcera do pé diabético custa ao Serviço Nacional de Saúde 40 mil euros por doente, dá para comprar mais de 10 ou 12 dispositivos”.

Em Setembro de 2010, o produto foi aperfeiçoado e foi registada a patente "Sport", já testada por alguns dos melhores atletas do mundo. “Já trabalhámos com o Chelsea, com a equipa de râguebi Leicester Tigers, com a selecção nacional de cricket da India e, mais recentemente, monitorizámos o Van Persie, do Arsenal”.

MovinSense
A empresa lançou também o MovinSense, que foi desenvolvido para ser utilizado em ambiente hospitalar. Monitoriza, ao segundo, pessoas acamadas para prevenir o aparecimento de úlceras de pressão.

É um aparelho de pequenas dimensões, que se cola com um adesivo ao peito do doente e envia para o computador dos enfermeiros o posicionamento em tempo real. A tecnologia usa uma rede sem fios “e resulta da medição da pressão do corpo do doente em cima da cama e da contagem do tempo em que ele permanece na mesma posição”, explica Paulo Ferreira dos Santos.

No caso dos doentes cuja posição tenha de ser mudada periodicamente, define-se o tempo no computador da central de enfermagem e é accionado o dispositivo. “A partir daí, ele inicia a contagem decrescente. Se o tempo for ultrapassado, o MovinSense envia um alarme.”

Também aqui há ganhos económicos: “As úlceras de pressão de grau 1 – as menos severas – têm um custo directo para o Serviço Nacional de Saúde de 1200 euros, o que dá para pagar quatro dispositivos”. Acrescem ainda os custos de hospitalização, “que podem ir até aos 40 mil euros”. Portanto, “com o custo total de uma úlcera, podemos monitorizar entre 10 a 15 camas”.

As duas salas
A sede da Tomorrow Options são duas pequenas salas. De um lado, cerca uma dezena de engenheiros trabalham em silêncio, de olhos postos nos computadores. Do outro, cinco funcionárias tratam do marketing e planeamento.

A empresa abriu-se ao exterior e está na incubadora de empresas tecnológicas em Sheffield, no Reino Unido, “o que nos permite trabalhar com o UK Trade Investment – a agência pública de desenvolvimento –, que exerce uma enorme influência em todas as embaixadas e consulados britânicos pelo mundo fora”. Além disso, refere Paulo Ferreira dos Santos, “isso traz-nos uma chancela de credibilidade para quem quer fazer negócio”.

A internacionalização via Reino Unido foi um recurso necessário. Porque, do lado de cá, as portas nunca se abriram. “Por várias vezes, tentei entrar em contacto com a AICEP Portugal, mas, na maior parte dos casos, nunca passei da telefonista”, diz Paulo Ferreira dos Santos.

Problema português
Sendo a saúde o mercado prioritário, Ferreira dos Santos diz que a sobrevivência do projecto não se compadece com a organização do sistema de saúde português. “É um mercado pequeno e mau pagador”. E dá um exemplo: “Há uns anos, o meu conselho de administração insistiu que eu fizesse vendas em Portugal. Eu acedi e fiz negócio com um hospital público português. Até hoje, ainda não recebemos”.

E há ordenados para pagar a colaboradores que têm, em média, 25 anos de idade: 80% em situação de primeiro emprego, com ordenados que variam entre os 1200 e os 1600 euros.

A empresa tem algumas regras de ouro, que se relacionam directamente com a estratégia de crescimento do negócio. Paulo Ferreira dos Santos garante que, “até agora, todos os estagiários ficaram como funcionários da empresa, nunca empregamos ninguém com contratos a prazo ou a recibos verdes, nunca aceitamos estagiários não remunerados e não queremos que as pessoas trabalhem mais de oito horas por dia”.